O artigo é de Vitor Bento A bonança e o mau tempo - DiarioEconomico.com e diz respeito aos problemas económicos mundiais actuais, mas todo ele tem uma aplicação mais geral e a mais de um contexto - deve ser lido, também, a esta luz. O pessimismo com que o artigo termina é substantivado, por exemplo, pela ida a Espanha de Portas, por aquilo que Pedro Passos Coelho defendeu hoje sobre o Imposto Produtos Petrolíferos e o modo como MRS comentou todo o processo (tinha falado sobre o assunto aqui), com o Pedro Santana Lopes a comportar-se, a contrário, pasme-se, muito bem - se o governo falhar será por outros motivos - penso eu - que não os que são defendidos (até ao momento) por alguns da oposição à direita do PS (não sei o que pensam os que estão à esquerda do PS).
"Quando os períodos de estabilidade ou progresso económico se tornam mais prolongados do que o habitual, tendem a fomentar um estado de espírito complacente e auto-satisfatório, como se, depois de porfiado esforço, se tivesse finalmente atingido o nirvana económico. Mesmo quando alguns dos desenvolvimentos começam a desafiar o bom senso e os ensinamentos da experiência ou das teorias estudadas, a complacência criada leva mais facilmente a acreditar na “mudança de paradigma” ... do que a questionar a sustentabilidade da situação.
E quando alguns se atrevem a questionar essa sustentabilidade, contrariando a corrente do instalado optimismo complacente e prevenindo para os perigos que se avizinham, são rapidamente desconsiderados como pessimistas e profetas da desgraça. E ainda há quem duvide do poder da fé...O resultado dessas complacências é que quando a inevitabilidade acaba por se sobrepor às ilusões e desabar as suas consequências sobre a realidade, não só os custos a suportar se tornaram maiores do que se tivesse prevalecido um espírito mais precavido, como, desmoronada a ilusão da fé sustentadora, a superveniente desorientação gera pânicos que agravam ainda mais os problemas.
"Quando os períodos de estabilidade ou progresso económico se tornam mais prolongados do que o habitual, tendem a fomentar um estado de espírito complacente e auto-satisfatório, como se, depois de porfiado esforço, se tivesse finalmente atingido o nirvana económico. Mesmo quando alguns dos desenvolvimentos começam a desafiar o bom senso e os ensinamentos da experiência ou das teorias estudadas, a complacência criada leva mais facilmente a acreditar na “mudança de paradigma” ... do que a questionar a sustentabilidade da situação.
E quando alguns se atrevem a questionar essa sustentabilidade, contrariando a corrente do instalado optimismo complacente e prevenindo para os perigos que se avizinham, são rapidamente desconsiderados como pessimistas e profetas da desgraça. E ainda há quem duvide do poder da fé...O resultado dessas complacências é que quando a inevitabilidade acaba por se sobrepor às ilusões e desabar as suas consequências sobre a realidade, não só os custos a suportar se tornaram maiores do que se tivesse prevalecido um espírito mais precavido, como, desmoronada a ilusão da fé sustentadora, a superveniente desorientação gera pânicos que agravam ainda mais os problemas.
Há em todo esse processo de inflação de expectativas como que uma perda de memória colectiva, explicável, talvez, pela renovação geracional dos principais protagonistas dos booms e pelo receio dos “continuadores” de se deixarem associar ao fantasma do Velho do Restelo.A recente crise financeira – de que ainda não são conhecidos todos os seus contornos e consequências – é de tudo disso um bom exemplo. E o mesmo se poderá dizer, salvaguardadas as naturais diferenças “coreográficas”, da inflação que se avizinha.
Em rigor, aliás, não se trata de um processo inflacionário “típico” – monetariamente originado –, mas de um ajustamento de preços relativos, que acabará por acarretar, nesse ajustamento e para prevenir rupturas mais violentas, um processo inflacionário. A própria origem deste problema não pode, em boa verdade, surpreender-nos. Um notável boom económico mundial, que trouxe a ascensão económica de larguíssimas centenas de milhões de pessoas, não podia deixar de se reflectir num considerável aumento da procura de bens primários e, consequentemente, no ajustamento do seu preço relativo.A extensão, no tempo e nas consequências, deste processo de ajustamento irá depender de muitos factores – entre os quais a serenidade das autoridades monetárias – mas a sua inevitabilidade parece-me dificilmente questionável. Assim como me parecem dificilmente evitáveis todas as suas consequências económicas – ao nível da retracção do crescimento – e sociais – ao nível do impacto na pobreza.
A sageza das autoridades responsáveis – monetárias e politicas – vai ter que ser aplicada, e avaliada, não em evitar o inevitável – a crise –, mas em minorar as suas consequências, não só imediatas, mas sobretudo a prazo. E é neste dilema – imediato vs médio prazo – que muito se vai jogar. O grande problema que vejo é que os incentivos que hoje regulam a acção política – cada vez mais sujeita a uma permanente avaliação referendária através dos media – favorecem mais a preocupação com os resultados imediatos do que com o futuro. Daí o receio de que as consequências da crise resultante do ajustamento dos preços relativos dos produtos primários possam vir a ser maiores e mais duradouras do que seria necessário. Mas fica-me sempre a esperança de estar enganado."
Em rigor, aliás, não se trata de um processo inflacionário “típico” – monetariamente originado –, mas de um ajustamento de preços relativos, que acabará por acarretar, nesse ajustamento e para prevenir rupturas mais violentas, um processo inflacionário. A própria origem deste problema não pode, em boa verdade, surpreender-nos. Um notável boom económico mundial, que trouxe a ascensão económica de larguíssimas centenas de milhões de pessoas, não podia deixar de se reflectir num considerável aumento da procura de bens primários e, consequentemente, no ajustamento do seu preço relativo.A extensão, no tempo e nas consequências, deste processo de ajustamento irá depender de muitos factores – entre os quais a serenidade das autoridades monetárias – mas a sua inevitabilidade parece-me dificilmente questionável. Assim como me parecem dificilmente evitáveis todas as suas consequências económicas – ao nível da retracção do crescimento – e sociais – ao nível do impacto na pobreza.
A sageza das autoridades responsáveis – monetárias e politicas – vai ter que ser aplicada, e avaliada, não em evitar o inevitável – a crise –, mas em minorar as suas consequências, não só imediatas, mas sobretudo a prazo. E é neste dilema – imediato vs médio prazo – que muito se vai jogar. O grande problema que vejo é que os incentivos que hoje regulam a acção política – cada vez mais sujeita a uma permanente avaliação referendária através dos media – favorecem mais a preocupação com os resultados imediatos do que com o futuro. Daí o receio de que as consequências da crise resultante do ajustamento dos preços relativos dos produtos primários possam vir a ser maiores e mais duradouras do que seria necessário. Mas fica-me sempre a esperança de estar enganado."
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