A boa notícia é a decisão do Governo quanto ao pagamento das dívidas do Estado e das empresas, e ao modo como foi anunciada. Estamos perante uma actuação correcta, oportuna e tecnicamente. Um dos modos de actuar eficazes, nesta conjuntura, do ponto de vista macroeconómico, era este: corrige-se um mal - o não pagamento atempado das dívidas, por parte do Estado, é mau para o funcionamento da economia, pelo exemplo e pela dimensão do impacto desse comportamento - e intervém-se injectando liquidez em sectores, como alguém o notava, com uma elevada propensão marginal a gastar do rendimento disponível, e isso é bom neste clima recessivo em que estamos metidos. Estamos, por outro lado, perante uma actuação táctica exemplar face ao momento político. Responde-se a um problema, aceitando como correctas as críticas, passando a imagem de flexibilidade e de humildade na resolução de erros - embora o erro coexistisse com este e com todos os outros governos anteriores. As proverbiais críticas a Sócrates sobre a sua "arrogância" e a sua "teimosia" terão, agora, menor capacidade de tracção - vou ouvir com curiosidade o que MRS irá dizer hoje. Porque é que esta decisão não foi tomada antes? Num qualquer inventário das medidas possíveis de tomar, ela surgiria sempre. Para que só acontesse agora, quando as críticas de Manuela Ferreira Leite e das associações empresariais sublinhassem junto da opinião pública a sua importância? E se esvaziassem essas críticas? Para que coincidisse com o anúncio da nacionalização do BPN? A resposta sendo positiva para qualquer das perguntas só sublinha o juízo de valor emitido acima. A nacionalização do BPN é uma má notícia para o sistema financeiro português - introduz elementos de incerteza na conjuntura nacional- e para a reguladores nacionais - idem.
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