24 de setembro de 2009

Eleições: a agenda oculta do Público

Medeiros Ferreira diz, no seu blogue, que, ao contrário do Expresso, o Público e o DN estão na campanha. Pois. Acontece é que eu desconfiava há muito que o Público estava em campanha, e não tanto por causa da licenciatura, das casas, do Freeport, como sugere o Expresso.
A primeira vez que tal me veio à cabeça decorria a campanha contra os "desmandos" da ASAE, iniciada no Público, e potenciada pelo António Barreto: - foi a desmesurada, a hiperbólica, indignação do "Eles estão doidos". Ora, para minha surpresa na altura, todos os casos badalados, e caricatos, invocados como exemplos da má-prática da ASAE, foram desmentidos, de modo convincente (pelo menos para mim), um a um, por aquele senhor de bigode que, depois, foi apanhado a fumar onde não devia. Estranhei a discrepância completa entre a acusação factual (e hiperbólica) e o desmentido factual (comedido e racional) - o caso era um daqueles onde uma das partes está inequivocamente a mentir, onde o factual só se pode aplicar a uma das alternativas [no entretanto, fui constatando que, apesar da qualidade dos desmentidos, a opinião-pública tinha sido capturada pela versão vendida pelo Público - a esta distância, e em retrospectiva, sabendo o que se sabe, foi um erro o Governo não ter intervido a defender enfaticamente a ASAE].

[A má regulamentação, ou a boa regulamentação mal monitorizada ou mal aplicada, têm consequências nefastas, nomeadamente, para a produtividade e a competitividade de um país. Mas, a contrário, a boa regulamentação, e a sua correcta monitorização e aplicação, têm o efeito contrário, porque introduzem níveis superiores de exigência e fortalecem a boa concorrência. A falta de competitividade de Portugal, e o seu desempenho insuficiente em termos de produtividade - que explicam, em parte, o endividamento externo - têm na informalidade, no mercado negro, nas más práticas comerciais, na insuficiente exigência e qualidade na actividade económica, uma das suas causas mais importantes. O País necessita, portanto, da ASAE, e duma ASAE rigorosa - em Portugal, as leis não são aplicadas e monitorizadas de modo adequado. Não ficou provado, pelo menos para mim, que a ASAE tenha extravasado das suas competências, ou que tenha actuado sem bom senso. Como deixou de aparecer nas notícias, espero que não tenha sido castrada na sua diligência]

Não me agrada discutir a actuação do Público nos outros casos - as estratégias e as motivações são menos claras, e dou de barato, como é óbvio, que uma boa comunicação social tem de escrutinar os políticos, e mesmo que a intenção, a calendarização, a sistematização, a coordenação, a amplitude do escrutínio, a discriminação, deixem travos na boca, imputemos tudo aos custos de termos as vantagens superiores de uma democracia. Gostaria, isso sim, no entanto, que a Comunicação Social se escrutinasse também; tivesse um meta-análise sobre o modo como as notícias são produzidas.  É curioso que o Director do Público se queixe, e aponte a significância da simultaneadade da eclosão do assunto na comunicação social concorrente - actuação de uma qualquer agência de comunicação, ouvi eu dizer do sub-director do Público - e nunca tenha relevado a significância do mesmo fenómeno, em termos de interesse noticioso, noutros casos: Freeport, por exemplo (ver o que disse aqui, a esse propósito). O modo como as notícias surgem, ou são produzidas, é em si mesmo notícia, e como tal é incorrecta a sua sonegação, por omissão, à opinião-pública - veja-se o que diz José Miguel Júdice sobre a actuação do DN no episódio do e-mail (aqui), e a contrário, o que a maioria dos comentadores de direita tem vindo a glosar sobre o assunto, nomeadamente, o incontornável Pacheco Pereira.

Bom, e depois, veio a história inqualificável - a todos os títulos - das escutas de Belém e o que o Provedor dos Leitores do Pública a questionar se o Público têm uma agenda oculta: "Subitamente neste Verão" - Portugal - DN e Provedor do 'Público' admite "agenda política oculta" - Portugal - DN: "Na sua crónica de hoje, Joaquim Vieira, provedor do leitor do Público, faz críticas à actuação do jornal, considerando que "do comportamento do PÚBLICO (...) resultou uma atitude objectiva de protecção da Presidência da República (PR), fonte das notícias". Para Joaquim Vieira, "isto, independentemente da acumulação de graves erros jornalísticos praticados em todo este processo (entre eles (...) permitir que o guião da investigação do PÚBLICO fosse ditado pela fonte da PR) leva à questão mais preocupante, que não pode deixar de se colocar: haverá uma agenda política oculta na actuação deste jornal?"" .

Enfim, desculpar-me-ão se aceito de todo a pertinência da pergunta de Joaquim Vieira, e que não tenha dúvidas sobre qual é resposta correcta.
No entanto, admitindo que o Público tenha uma agenda oculta - ou, com mais propriedade, o seu director e alguns dos jornalistas da redacção - o que teria motivado isso?

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