18 de janeiro de 2009

[Notas - 14.12.2008] A gestão das expectativas

[Esta nota tinha sido publicada neste blogue em 14.12.2008, mas, por engano, limpei-a]
  1. Gerir as expectativas da população de um país, ou de uma região, no contexto de uma crise mundial, não é tarefa fácil. O Governo da República tem o feito, a maior parte do tempo, do modo que seria de esperar de qualquer governo na mesma situação - no entanto, a afirmação do Primeiro-Ministro de o ano de 2009 ir trazer melhorias aos cidadãos decorrentes das descidas das taxas de juro, da inflação, do preço do petróleo, não foi feliz - para variar - na forma e no modo como foi articulada (o mesmo tinha sucedido, embora de modo menos grave, com as declarações do VPGRAA, sobre o mesmo assunto: ver aqui). [esta apreciação foi, no entretanto, qualificada aqui] Isso poderia ter sido referido, mas como algo que atenuaria os impactos da crise em Portugal e que potenciaria as medidas de política tomadas, ou a tomar, que vão no mesmo sentido. No entretanto, o modo como a oposição se tem comportado neste particular é inqualificável. Miguel Sousa Tavares, na sua última crónica no Expresso: Francamente, para que serve o PSD? diz tudo aquilo que eu gostaria de dizer a este propósito. Aliás, o que diz sobre a percepção dos cidadãos sobre a democracia e políticos, e a dos políticos sobre a democracia e os cidadãos, devendo ser qualificada em alguns aspectos - e assim sucede, porquê? - é um bom juízo de realidade (quando o Expresso publicar na net essa crónica, vou recuperá-la - essa parte - neste blogue).
  2. Quanto à sua suspeita dos economistas não servirem de muito, não estou de acordo, mas esta deve ser uma questão a equacionar e a encarar de frente. Existe uma discussão em curso na profissão sobre se teria sido possível antever o que iria suceder (ver aqui exemplos), e temos mesmo economistas a listar o que previram (o que os preocupava) e quais foram as suas surpresas. Havia muitos economistas preocupados com o que estava a suceder há alguns anos a esta parte, mas a história económica prima, como qualquer outra história que se preze - o contexto altera-se - por escrever os novos episódios, com uma combinação de novidade e de regularidades verificadas antes - daí parte da surpresa. Os economistas estão na situação dos médicos no final do século XIX, antes da penicelina e outros remédios: sabem o que faz mal à saúde económica, os cuidados de prevenção a ter, mas nunca têm a certeza de que forma a doença se vai revelar, nem têm remédios rápidos e indolores para debelá-la quando ela irrompe - esta é uma analogia que foi feita por outros (Krugman, por exemplo). Naturalmente, que nem todos os economistas estão em condições de se pronunciar - é um caso da especialização, da carreira profissional, de ler ou não, de investigar ou não - e mesmo quando se quer investigar, nem sempre existem os instrumentos para tal (por exemplo, a pobreza das estatísticas sobre a economia dos Açores não incentiva a investigação académica nesse domínio, e isso terá os seus custos). Mas quando os economistas se pronunciam, aquilo que dizem deveria merecer, pelo menos, a atenção que um médico recebe quando fala da necessidade de fazer exercício, de não aumentar de peso, etc., etc.. Os maus comportamentos pagam-se, aqui, com as crises.

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