29 de dezembro de 2007

Ainda sobre Barack Obama

Mais sobre Obama (e sobre a opinião que Paul Krugman tem sobre o estilo de actuação, e estratégia, que Obama se propõe ter, e seguir). É uma nota, no Lambert's Blog, entitulada: Obama stump speech strategy of conciliation considered harmful, que explica o sentido da posição de Krugman, e fâ-lo à luz da apreciação do que tem sido a política americana nos últimos 30 anos - onde esta tem sido condicionada e formatada (de modo muito efectivo) pela actuação dos grandes interesses económicos da direita americana (ver abaixo excerto), ajudada por outros factores (o livro mais recente de Al Gore - não o li ainda - refere-o, penso eu). A tese de Krugman, é que, face a essa deriva (deliberada), o momento exigiria, em termos políticos, um comportamento, por parte de um Presidente Democrata (e do seu partido), de cariz ofensivo, na base de um plataforma, claramente, de esquerda (à americana). Obama, não asseguraria isso. É bom sublinhar que a explicação do facto dos EUA se posicionarem como se posicionam na questão da resposta às consequências das alterações climáticas, também entronca nessa deriva. A propósito de Barack Obama, ver ainda neste blogue, esta nota. Excerto:
"It’s conventional wisdom (says Krugman) among many economic
schools, not just the left, that economics drives politics, and not the other
way round. Economics is seen as more fundamental than politics, certainly more
fundamental than electoral politics. Economic trends are deep tides, and
political changes are mere waves, froth on the surface.
Yet if you look at
the history of the last thirty or so years, it seems (says Krugman) that
conventional wisdom has been stood on its head, and that politics drove
economics.
And that is our history as we know it.
Starting in the 1970s, at about the time of the Lewis Powell
memo
, an interlocking network of right
wing billionaires
and theocrats began to fund
the institutions whose dominance we take for granted today: The American
Enterprise Institute, the Heritage Foundation, The Family Research Council, the
Federalist Society, the Brookings Institute (over time), and on and on. During
this period, College Republican operatives like Rove, Abramoff, and Gary Bauer
became important figures in this network, as did the ex-
Trotskyite
neocons
who broke away from the Scoop Jackson wing of the Democratic Party.
The period was also marked by the steady retreat of the press from reporting,
under twin pressures from the right
“working the
refs”
, as Eric Alterman put it, and winger billionaire owners
slashing news coverage in favor of “entertainment,” and by the steady advance of
Rush Limbaugh on talk radio and, later, by Matt
Drudge
on the web. And if you got hooked into that network, you got the cradle-to-grave
protection typical of socialism: You always had a job, whether as a “fellow” or
“scholar” at the AEI, a shouting head on Crossfire, as a
columnist,
as a contractor, as a political appointee or staffer, or as a lobbyist, and so
on and on and on. You always got funding. You
were
made
. Just for the sake of having an easy label for this dense network of
institutions, operatives, ideologues, and Republican Party figures, let’s call
it the Conservative
Movement (instead of HRC’s*
Vast Right Wing Conspiracy, since it’s not really a conspiracy, except possibly
an
emergent
one. The billionaires don’t — except for Scaife during the Arkansas project, or
Rupert Murdoch playing editor — generally pick up the phone and give orders;
rather, they manage the Conservative Movement like an investment portfolio of
entertainment properties; some start-ups (
Politico), some stars
(FOX), some cash cows (Limbaugh), some dogs (American Spectator)). Slowly but
surely, well funded and well organized Conservatives pushed their ideas from
unthinkable, to radical, to acceptable, to sensible, to popular, and finally
into policy, in a process described as
The Overton
Window
. As surely and ruthlessly, progressive ideas were marginalized, and
then silenced altogether. And spending what it took, the winger billionaires
used the Conservative Movement to restructure politics, and having restructured
politics, economics. To their economic benefit.
For these billionaires, the
ROI of the Conservative Movement is absolutely spectacular. At the micro level,
for example, if you want to create an aristocracy, then you want to eliminate
any taxes on inherited wealth, despite what
Warren
Buffet
or Bill Gates might say about the values entailed by that project.
So, the Conservative Movement goes to work, develops and successfully propagates
the “death tax” talking point (meme, frame) — which they may even believe in, as
if sincerity were the point — and voila! Whoever thought that “family values”
would translate to “feudal values” and dynastic wealth? At the macro level,
their ROI has been spectacular as well. Real wages have been flat for a
generation; unions have been disempowered; the powers of corporations greatly
increased; government has become an agent for the corporations, rather than a
protector of the people; the safety net has been shredded; and so on and on and
on.
The
picture tells the story [não consegui copiar - é muito instrutiva; ver no original]. The Conservative Movement succeeded beyond the wildest
dreams of the billionaires who invested in it. Despite the remarkable gains that
we have made in productivity, they creamed most of it off."




22 de dezembro de 2007

Consequências não esperadas

Eu como muita boa gente, encarámos a subida do preço do petróleo como tendo (entre outras, menos agradáveis) a consequência de tornar mais competitiva a produção de energias renováveis; de incentivar ao investimento na investigação nessa área; de tornar (mais) imperioso os esforços de conservação da energia. Não se terá contado com outras consequências, como as referidas nesta nota publicada no Free exchange Economist.com (ver excerto abaixo). A questão foi levantada, originariamente, num artigo de Daniel Gross, na VOX: Watch the price of carbon (ver também excerto) que conclui que o preço do petróleo não faz parte da solução, mas do problema. A minha única qualificação a isso, é que, provavelmente, teríamos, em qualquer cenário de evolução do preço do petróleo, a China (e a Índia) a explorar o seu (enorme) potencial carbonífero. A ser assim, o resultado (líquido do efeito apontado) de um preço mais elevado do petróleo, faria sempre parte da solução. Ver aqui, a propósito do quadro mais geral da discussão, uma nota recente deste blogue sobre a economia da China.


Free Exchange

"While many developed-nation environmentalists have welcomed dear oil as a
means to slow carbon emissions, Mr Gros points out that costly oil (which is
clean relative to coal) is increasing the extent to which new Chinese power
capacity relies on coal. The two fuels are close substitutes, but coal supply is
far more elastic than oil supply, and the relative price of coal to oil has
steadily dropped in the last decade. China has responded as one would expect,
building most of its massive new power infrastructure to run on coal."

Vox

"Coal’s supply elasticity is much higher than that of oil, so rising demand encourages substitution to dirty coal from cleaner oil – and switching is easy ex ante but hard ex post. In the next 10 years, China will install more power-generation capacity than Europe’s current stock. If it is all coal-burning, emissions will be difficult to reduce for decades. High oil prices are not part of the solution; they are part of the problem. "

PS: Faço hoje, sessenta anos. É oficial: atingi a meia-idade!

17 de dezembro de 2007

Obama - um bom candidato? um bom Presidente?

Não gostaria que Barack Obama fosse o candidato democrata à Casa Branca. A minha preferência vai para Hillary Cliton. Porquê? Porque o próximo mandato presidencial vai ser extremamente duro (mais do que o habitual), com os erros possíveis de serem cometidos, a terem consequências, potencialmente, muito mais importantes, a nível mundial - muito irá depender da qualidade e tempestividade das respostas dadas quanto ao Iraque; ao aquecimento global, etc.. Hillary Cliton será alguém que sabe o que é necessário mudar (interna e externamente), que quer mudar, mas capaz de o fazer de modo eficaz. A questão da mudança e de como mudar, é uma questão decisiva para os EUA, no próximo futuro.



  • Parece, contudo, que existem outros motivos, para não querer Obama. Paul Krugman critica o seu plano de reforma do sistema de saúde americano, como timorato, ingénuo, insusceptível de alterar as coisas, e sintomático do que poderá ser a sua actuação como Presidente (não o diz com todas estas letras). Penso que o argumento é convincente (embora, nesta matéria, eu não precise de muito para ser convencido). O artigo é: Big Table Fantasies , no New York Times.
  • Numa outra perspectiva, sobre Obama, temos uma crítica dum livro sobre ele, na City Journal (jornal conservador novaiorquino) - o livro afirma que não pode ganhar (não estou seguro disso). É muito interessante e dá que pensar. A crítica é: Obama’s Gordian Knot, A Review .


A situação belga vista pelo NYT

Um artigo de Roger Cohen, no New York Times, sobre a Bélgica: A Surreal State . Discute a sua situação no contexto da União Europeia. Um excerto:
Flanders? Scotland? Brussels as Singapore-like city state?
Wallonia? Kosovo? The map of Europe is not fixed. But I suspect its overall
stability is. I am attached to Belgium — two of my children were born here — and
I’d favor its preservation, but I can’t say it’s necessary within an overarching
E.U.

15 de dezembro de 2007

Qual é o impacto do crescimento chinês na poluição e nos recursos mundiais?






Não há que fugir - de novo, uma leitura instrutiva: China Eats the World. É um anexo do artigo da Mother Jones, China's Pollution Goes Global.

Não se pode pensar nada, neste mundo de Deus, sem considerar a China (e a Índia).

Timothy Gardon Ash, sobre o Tratado de Lisboa

A mensagem (e título) do artigo de Timothy Gardon Ash, no Guardian (Comment is free) , é: "This treaty is a mess, but it will free Europe to do more important things". De acordo, sem mais qualificações (para já). O artigo faz referências simpáticas a Lisboa. Eis um excerto:

Yet the European Union continues to function and grow. "Eppur si muove" (And yet
it moves) - Galileo's legendary defiant sigh - is perhaps the true, secret motto
of the European Union. Our leading expert on the EU's institutions, Professor
Helen Wallace, has just published a report on how the EU has been working since
the great eastward enlargement of May 2004. Against sombre predictions of
gridlock, she finds that it has continued to work rather well, through pragmatic
adaptation and non-treaty reforms. Now this amending treaty of Lisbon, modest
and hedged about with qualifications though it is, should enable the union to
work just a little bit better when - assuming all 27 member states ratify it -
it comes into force in January 2009. But a noble constitutional document,
comparable to that of the United States, it is not. It more nearly resembles the
instruction manual for a forklift truck.
In itself, it will do nothing to
convince Europe's citizens, or the rest of the world, of what the European Union
is good for. But it will help the EU to do things that may convince them. Now
that the end of this long, disappointing constitutional debate is at last in
sight, it should free us to concentrate on what this union does, rather than
what it is, or says it is. In fact, the EU will define what it is by what it
does. Will it help to create jobs, strengthen a free-trading world, encourage
development, or combat climate change? What can it offer neighbours who will not
become members, in the arc of crisis that surrounds us, from Murmansk to
Casablanca? We cannot wait until January 2009 to address these questions. By
then, a new American president will want to hear our answers.

11 de dezembro de 2007

Beyond the point of no return: uma perspectiva sombria...

Não é animoso o que se lê nesta nota, no Gristmill, (pelo menos no que se refere à possibilidade de contenção da progressão do aquecimento global, e das suas consequências) - mas já li pior: ver Lovelock, na Rolling Stone. No entanto, é (pois é) leitura instrutiva, que cobre uma série de campos que devem ser tidos em linha de conta na análise desta questão.

10 de dezembro de 2007

Conjuntura, inovação financeira e regulamentação

Raymond Plant destaca neste artigo: A decadência do liberalismo - DiarioEconomico.com, o papel que instrumentos financeiros, cujo valor é determinado através da aplicação de modelos matemáticos, teve na crise - ainda em curso - no mercado de crédito (de alto risco - subprime) à habitação. Esses modelos matemáticos não são bons substitutos, em termos da informação económica que fornecem, dos preços formados em mercado, e o seu uso, pelas consequências que acarreta, pode desembocar no contrário do que defendem os defensores da inovação financeira à outrance e com o mínimo de regulamentação. Raymont Plant explica a ironia da situação:

Mas onde se encontra a tal dose de ironia que mencionei no início deste texto?
No facto de economistas liberais como Hayek e Mises colocarem a tónica na
centralidade do preço de mercado aberto e transparente, que consideram crucial
para a coerência do capitalismo liberal. O valor das coisas é fixado pelas
preferências subjectivas dos consumidores, pelo que o preço deixa de ter sentido
quando exterior à interacção dessas preferências subjectivas. O valor,
precisamente aquilo que o preço representa, não pode ser fixado por um modelo
estranho ao preço de mercado. Logo, o preço é a medida do valor, ou seja, não
existe outro sentido de valor associado aos bens económicos. Nesta perspectiva,
o preço constitui uma ferramenta informativa crucial para a economia de mercado,
pois indica onde está a procura e o que devem fazer empresários e fornecedores –
e quais os custos – para satisfazer a procura. Desvincular o valor do preço
significa que passámos para a esfera do irreal, do metafísico. A ironia reside
no facto de a grave crise nas economias capitalistas liberais poder abrir
caminho a uma maior regulação e intervenção governamental, e, in extremis, a um
maior nacionalismo devido à substituição da lógica de valor e preço por
concepções abstractas de preço, que não podem, enquanto tal, assumir o papel
indispensável até aqui desempenhado pelo preço na economia capitalista, visto
carecerem de uma base racional. Neste contexto, existem fortes razões para
pensarmos que os modelos matemáticos não podem captar nem conceptualizar valor.

1 de dezembro de 2007

Ártico

O Gritsmill dá notícia de uma conferência, realizada em 26 de Novembro, na American Society of Metheorologists, acerca do comportamento, mais recente, das calotes polares face às alterações climáticas, e de como o perfil desse comportamento adere (ou não adere) às previsões. A conferência: Arctic Sea Ice Melt and Shrinking Polar Ice Sheets - Are Observed Changes Exceeding Expectations? tem aqui as versões HTML e PDF das intervenções. A informação é sugestiva, é instrutiva (quantas vezes, neste blogue, vou utilizar a palavra: instrutiva/o?), e não deixa dúvidas sobre o que está a suceder.

Ligações recomendadas: alterações climáticas


  1. Encargos nacionais decorrentes do Tratado de Kioto (Bloomberg);

  2. China, EUA e a resposta às alterações climáticas (UPI);

  3. O auxílio aos PVD no domínio da resposta às alterações climáticas (Guardian).

Bipartidarismo e Câmaras Municipais

O artigo de Ricardo Costa, hoje, no Diário Económico, é sobre os perigos do bipartidarismo na gestão das câmaras municipais. Interessante. Não tenho informação nem experiência sobre o assunto. A questão do "check and balance" é, obviamente, central para o delinear da estrutura que mais seja eficaz (e eficiente) no contrariar dos vícios (reais) apontados - não sei, é se não será melhor servida, ao contrário, por uma gestão monocolor: essa, seria a solução que escolheria como preferível, de modo imediato, sem pensar muito. Tenderia a considerar (de forma optimista, reconheço), que nesse caso, as oposições seriam mais atentas, mais diligentes na colheita e tratamento da informação e interventivas no controlo da gestão camarâria. Enfim, deveria ser possível descobrir indicadores de actuação que possibilitassem perceber, de modo objectivo, como a extensão daquelas práticas se encontra associada, no universo das câmaras do País, aos diversos tipos de gestão camarâria. E, no fim, poder-se-ia chegar à conclusão (possível) que o problema não está, em grande parte, aí...