31 de janeiro de 2010

E porque razão não se aceita o que se está a passar, e a sua gravidade?

Eventualmente, do ponto de vista científico, no sentido mais amplo, a discussão mais interessante relacionada com o tópico do aquecimento global, não será tanto a comprovação da sua ocorrência, e da responsabilidade humana no desencadear e alimentar do fenómeno, como perceber porque motivo o assunto desencadeia as paixões e a controvérsia que conhecemos.

Na verdade, e como alguém o dizia, do estrito ponto de vista científico, o conhecimento físico e químico que substantiva a afirmação da existência do aquecimento global, é conhecido há mais de um século. A ciência das alterações climáticas continua a ser aperfeiçoada; existem ainda zonas e ligações não adequadamente percebidas; acontecem erros de diverso tipo no processo da produção de resultados científicos; têm havido projecções temporais que se têm revelado, ou, excessivamente, pessimistas, ou, excessivamente, optimistas, mas a evolução tem sido, ao longo de todo o processo, de um progressivo aprofundamento do conhecimento do que condiciona, no médio e logo prazo, o perfil do clima. Os resultados científicos que a cada momento possam, aparentemente, por em causa a ideia central de estarmos a ser confrontados com um aquecimento global determinado pela actuação humana, têm vindo a ser examinados, integrados e explicados, no quadro mais amplo da compreensão do fenómeno. Por outro lado, a evidência dos factos tem vindo a acumular-se.

Isto é assumido e dito pelos cientistas que estudam o clima: RealClimate: Unsettled Science (altamente recomendado) e Climate Feedback: The real holes in climate science.

No entretanto, comprova-se não só no meio dos climatologistas, como dos cientistas em geral, que existe um consenso forte a propósito da aceitação da existência do fenómeno, da responsabilidade antropocêntrica, e da sua gravidade: (ver aqui e aqui).


E no entanto, a controvérsia existe, na opinião pública. Porquê? A resposta tem diversas causas. A primeira, e a mais óbvia, tem a ver com o trabalho feito pelos interesses ligados ao petróleo e ao carvão (Rolling Stone on “The Climate Killers: 17 polluters and deniers who are derailing efforts to curb the climate catastrophe.” « Climate Progress»; The Heat Is Online The desinformation campaigns of big coal: Origins of fossil fuel desinformation campaigns), numa linha de actuação já seguida, noutras situações, por interesses económicos ligados à indústria do tabaco (ver aqui e esta referência: Wunder Blog : Weather Underground), à do chumbo (não pensem que foi fácil chegar à gasolina sem chumbo), e a outras.  Um dos modos de fazê-lo é indicado em Climate Cover Up: How To Manipulate Public Opinion | Global Warming Basics | Allianz Knowledge (o vídeo pode ser visto aqui). A este propósito ler também: The Big Picture » Blog Archive » Agnotology e Clive Thompson on How More Info Leads to Less Knowledge.

Mas a história não fica por aqui - há outras influências em jogo, que se entretecem com aqueles interesses: a de cientistas, em particular, físicos, implicados no esforço militar durante a guerra fria (se não viram o vídeo de Orestes - aqui - não podem deixar de o fazer); ideológicas e culturais ligadas ao medo do aumento da intervenção do Estado na sociedade e na economia, ou à desconfiança da ciência e da cultura: Climate rage - Paul Krugman Blog - NYTimes.com e Open Left:: Why the right denies anthropogenic climate change.

Mas é possível, ainda, encontrar outras explicações ligadas às atitudes individuais; ao modo como percepcionamos o mundo que nos rodeia; ao modo como reagimos como seres sociais e aquilo que somos psicologicamente: The last refuge of prejudice | openDemocracyDeath from afar | The Economist; ao nível de iliteracia científica: Scientific illiteracy clouds climate-change politics | Climate Ark; à forma como reagimos à informação e à evolução das coisas : The Greatest Story Rarely Told - Dot Earth Blog - NYTimes.com; Shifting Baselines e Op-Ed Columnist - Cassandras of Climate - Paul Krugman - NYTimes.com.

Terminaria esta nota indicando estas referências assentes em investigação social recente sobre: " [a] Cultural Theory of Risk (CTR), as well as the more refined conceptualization of CTR known as 'Cultural Cognition'. The basic idea behind this approach is that individuals tend to form beliefs about societal dangers that reflect and reinforce their visions of the ideal society": Open Left:: A social science approach to global warming denialism--Part 1;Open Left:: A social science approach to global warming denialism--Part 2 ;Open Left:: A social science approach to global warming denialism--Part 3. Muito, muito interessante.

Como criar na opinião pública a ideia de não haver consenso científico sobre o aquecimento global?


Climate Cover Up: How To Manipulate Public Opinion | Global Warming Basics | Allianz Knowledge

Que consenso sobre o aquecimento global entre todos os cientistas? (II)


32000 scientists dispute global warming? | Grist

Que consenso sobre o aquecimento global entre todos os cientistas?

 


Clicar nas imagens para visualizarem versões maiores
Devem aceder a Climate Change: A Consensus Among Scientists? | Information Is Beautiful para lerem os comentários que contextualizam a informação gráfica - é o caso, em particular, do último gráfico.

Confiar na tendência é perigoso, obviamente!

Porque razão os reguladores públicos falharam no prevenir esta crise? Este artigo A failure of public financial sector governance | Economists' Forum | FT.com é leitura estimulante, e tem lições que vão para além da regulação financeira -  por exemplo, na política, e na actuação da administração pública. É dito que a falha vai para além dos argumentos, usualmente, invocados, da captura intelectual, ou tecnológica (financeira), dos reguladores, e terá a ver com informação e incentivos assimétricos, tipificando 6 situações explicativas (devem ler o artigo na totalidade para compreender o que se reproduz abaixo): 

*"[...] that there are asymmetric incentives in being conventionally wrong rather than unconventionally right.
*"[...] Disaster myopia is inherent in compartmentalised regulatory structures."
*"[...] more often than not, the argument that there is insufficient evidence or theory to measure a crisis is a defence for inaction." 
*"[...] It does not pay for a regulator to be in front and raise an alarm." 
*"[...] Central banking and regulation remains an art, which is why it is not a game for those who seek popularity."
*"[...] The current Westphalian structure of global governance, without binding accords, tends to avoid taking tough decisions since there is no global fiscal mechanism to deal with their consequences."

O artigo, que deve ser lido na totalidade, termina com a citação da conclusão de Hyman Minsky da tendência não ser nossa amiga, e conduzir à complacência, ou a que a estabilidade gera a instabilidade. Estão a ver onde isto se aplica? Quem não percebe isto ...

É bom que a Universidade dos Açores se preocupe com as implicações do aquecimento global para os Açores: - há mais alguém?

Ao menos todos parecem terem começado a preocupar-se com a eficiência energética, mas há ainda muito por fazer:

Não gosto mesmo nada disto

:ILHAS: É de se lhe tirar o chapéu: "[...] A estes dados há que adicionar a situação difícil ou muito difícil em que se encontram algumas grandes empresas açorianas. Um cenário que vai obrigar o Governo regional a entrar no capital social de algumas, senão todas, essas empresas. Carlos César já deu esse sinal quando, à margem de uma conferência no Palácio de Sant’Ana, admitiu que o governo vai “ ter que avançar com outras intervenções” como a que foi feita “com a fábrica de Santa Catarina”, em São Jorge. Na lista de empresas em situação problemática estão a VerdeGolf, a Sinaga, mas, também, a Asta poderá vir a ser alvo da ajuda do Executivo. [...].'"

Não gosto mesmo nada disto, quer pela medida em si, quer pelo que indicia sobre a conjuntura económica regional, quer pelo que revela da resiliência (de algum) tecido empresarial açoriano, quer por tudo e mais alguma coisa. Espero que ao decidir fazer isto, o Governo tenha claro o que deve fazer para sair disto, depois, num futuro que se espera ser muito próximo, e já agora, [por favor,] sem grandes custos para o orçamento regional  - embora não sejamos a Madeira, não gostei, também, nada, do valor acumulado do nosso endividamento, ventilado no estudo do BPI: (Guterres só houve um, e numa conjuntura muito particular de "aisance" financeira) .

A necessidade de combater o desemprego não pode justificar tudo, particularmente, quando, em retroacção, no médio prazo, essas medidas possam vir a fragilizar a própria capacidade de gerar novo emprego na Região. No limite, algumas empresas encerrarem, poderá ser a melhor solução, não que não possa ser argumentado, em contrário, que aquilo que é correcto noutros contextos, não o será no contexto específico de uma região com as especificidades dos Açores. Mas se chegamos ao ponto em que é necessário invocar isso para justificar medidas deste tipo, talvez seja o momento de assumir em termos de reflexão política que a situação macroeconómica açoriana, para além das transferências do exterior, tem nas características que definem os Açores como região ultraperiférica, a sua segunda grande determinante.

A pecha dos políticos não se preocuparem com a macroeconomia é uma característica nacional - Victor Bento queixava-se disso, há uns temos. Acontece, e numa perspectiva pior, que o nosso quadro macroeconómico é diferente do continental - é a tal especificidade - pelo que a preocupação cá, nesse aspecto, deveria ser muito maior: não tem sido, ou melhor, preocupação com o contexto macroeconómico não tem havido.

É bom saber

Worthwhile Canadian Example - Paul Krugman Blog - NYTimes.com: "And so it is with finance. Those who think that “too big to fail” is the essence of the problem have to explain why Canada, with basically just five banks, has avoided crisis. Those who blame the Fed for keeping interest rates too low too long have to explain why Canada, which basically had the same interest rate experience we did, didn’t have anything like the same problems. So what’s Canada’s secret? Regulation, regulation, regulation. Much stricter limits on leverage, much stricter limits on unconventional mortgages, and an independent consumer protection agency for borrowers." 
 

30 de janeiro de 2010

Algo que me esqueci de referir a propósito d'O Avatar



Um amigo meu chamou-me a atenção para o facto do enredo d'O Avatar ser antecipado, em parte, num livro conhecido de ficção científica, de Ursula K. Le Guin, The World for World is Forest, premiada com o "Hugo" e a "Nebula" (a tradução portuguesa, Floresta é o nome do mundo, foi publicada pela Europa-América, na sua colecção Livros de Bolso FC, em 1984). O livro foi escrito em 1972 tendo como pano de fundo a guerra no Vietname.

A Wikipédia informa o seguinte sobre o livro: "The novella version, originally published in Again, Dangerous Visions, was a winner of the 1973 Hugo Award for Best Novella. Le Guin has stated in her introduction to the novel that the Vietnam War was a major influence on this work. Her original title was The Little Green Men, but Ellison changed it with Le Guin's reluctant consent.

An evidently relevant touch is the presence of Vietnamese people among the oppressor humans, presumably intended to convey the point that today's oppressed might turn into tomorrow's oppressor.

A copy of The Word For World is Forest is visible at the bedside of the character Joker in a scene set in Vietnam in Stanley Kubrick's film Full Metal Jacket (this is an anachronism as the movie takes place in and around 1968, while The Word For World is Forest was published in 1976).

In chapter 43 of the expanded version of Stephen King's 1978 novel The Stand, dialogue between the characters Nick Andros (who is characterized as an avid science fiction reader) and Tom Cullen alludes to "The Word For World is Forest" as they enter Woods County, Oklahoma: "'The world is the place I mean,' Tom said. 'Are we going into the world, mister?' Tom hesitated and then asked with hesitant gravity: 'Is Woods the word for world?' Slowly, Nick nodded his head."

Este apontamento é relevante para mim na medida que vem a substantivar aquilo que me parece ser o despropósito de muitas críticas ao filme, quanto à sua correcção ou plausibilidade científica, esquecendo que o mais importante em ficção científica só em parte passa por aí (ver aqui e aqui).

Astronomy Picture of the Day - 2010 January 30 : Galáxia Messier 88

Messier 88 
Credit & Copyright: Adam Block, Mt. Lemmon SkyCenter, U. Arizona 
Explanation: Charles Messier described the 88th entry in his 18th century catalog of Nebulae and Star Clusters as a spiral nebula without stars. Of course the gorgeous M88 is now understood to be a galaxy full of stars, gas, and dust, not unlike our own Milky Way. In fact, M88 is one of the brightest galaxies in the Virgo Galaxy Cluster some 50 million light-years away. M88's beautiful spiral arms are easy to trace in this colorful cosmic portait. The arms are lined with young blue star clusters, pink star-forming regions, and obscuring dust lanes extending from a yellowish core dominated by an older population of stars. Spiral galaxy M88 spans over 100,000 light-years."

Astronomy Picture of the Day, NASA ( Archive, 2010 January 30)

Nota: Clicar na imagem para aceder a uma versão maior

28 de janeiro de 2010

Enquanto isso, na Grécia ...

Como o ditado diz, quando vires a casa do vizinho pegar fogo, põe as tuas barbas de molho. Leitura, obviamente, interessante. 

Eu continuo atónito é com o facto dos políticos nas nossas democracias continuarem a tratarem os cidadãos como criancinhas a quem se tem de esconder as amarguras e as duras verdades da vida - ou será que os políticos é que têm a correcta percepção de com quem estão a lidar? Este aparte vem a propósito do que o PM grego contou aos seus colegas num jantar particular, sobre os usos e costumes do seu país (ver na segunda referência) mas que é incapaz, num momento à Churchill, de denunciar aos seus compatriotas. 

Diversos artigos, de diversos anos, sobre os anos Euro da economia Portuguesa

São alguns artigos e notas sobre o comportamento da economia Portuguesa nos anos anteriores e posteriores à entrada no Euro. É leitura interessante e oportuna, embora exigente, nalguns casos, para não-economistas, ou para economistas destreinados. Reli-os agora, e o meu estado de alma, não melhorou.
  • Adjustment within the euro. The difficult case of Portugal - Olivier Blanchard [November 11, 2006 (First draft, February 2006)) O artigo conclui assim: "I began by arguing that Portugal faced an unusually tough economic challenge: low growth, low productivity growth, high unemployment, large fiscal and current account deficits.I then examined various policy choices, from reforms increasing productivityI then examined various policy choices, from reforms increasing productivity growth, to coordinated decreases in nominal wages, and the use of fiscal policyin this context. I want to end on a more positive note. There is a large scope for productivity increases in Portugal, and a set of reforms which could achieve them. A decrease in nominal wages sounds exotic, but is the same in essence as a successful devaluation. If it can be achieved, it can substantially reduce the unemployment cost of the adjustment. Fiscal policy can also help. While deficits must be reduced, temporary fiscal expansion could be part of an overall package, facilitating the adjustment of wages. The challenge is there. But so are the tools needed to meet it." A dado passo, no corpo do documento diz-se o seguinte: "[...]while deficit reduction is needed, it would be unwise to expect it to lead, by itself, to higher demand and lowerunemployment. For the same reason, it would be unwise to expect deficit reduction to lead to a boom in investment, and through capital accumulation, to a substantial improvement in competitiveness." Pois é, existe vida para além do défice, mas não é aquela que alguns esperam. 
  • A new level of economic development in Portugal - McKinsey Quarterly - Economic Studies - Country Reports: "On the anniversary of the bloodless revolution that toppled a long-standing dictatorship in April 1974, Portugal looked back on a generation that had transformed it into a modern European economy. But the jubilee also marked another turning point: the need to create a new path toward growth. To drive the economy forward, the country can no longer rely on integration with the rest of the European Union or on the fact that until now wages in Portugal have been among the lowest in the trade bloc. Indeed, the process of catching up with the wealthier EU economies has lately ground to a halt. It is high time Portugal tackled the underlying cause of the wealth gap: its low labor productivity." 

E continua .... Bill Gates, denegacionistas, Obama, picos de quase tudo ...

  • The Oil Drum | Drumbeat: January 28, 2010: "[...] In a nutshell, the world is dangerously close to 'peak everything' - oil, coal, natural gas, water, minerals, soil, phosphorous, fish, and perhaps the most important of all, the capacity of the atmosphere to absorb more carbon without triggering off life-destroying phenomena. [...]". Esta referência remete para um outro conjunto de referências sobre estes assuntos.

Existe o Pico do Petróleo, mas ele não é o único perfilar-se no horizonte

Não é só a questão da sustentabilidade da extracção do petróleo a níveis que possam acomodar o crescimento da procura (primeira referência abaixo); é também a possibilidade de ocorrência de picos na exploração de outros minerais muito importantes (as duas últimas referências chamam a atenção para um desses casos).
  • The Oil Drum: Campfire | Thinking about Planning for the Future: "The problem is that when we look ahead that far, there are so many conflicting ideas of what the future might look like, it is hard do know what to believe. I thought perhaps it might be helpful to put together some graphs of a range of fuel supply possibilities, in order to understand better what the challenges are. Depending on which scenario we believe, perhaps it will give us a better idea of where we should put our efforts."

Enquanto isso, na Zona Europa ...

Hoje, que foi apresentado o orçamento, convirá saber o que se defende sobre como deveria evoluir a governança económica da União para evitar os apertos actuais, no futuro, e aquilo que se vai dizendo sobre a estabilidade da zona euro, ou sobre os aspectos que levam alguns a questionar, seriamente, a possibilidade de ela ser mantida. As referências abaixo são pedagógicas a esse respeito.

Quanto ao orçamento, e no seguimento do que tantos outros tem vindo a dizer, receio que o esforço para que aponta seja insuficiente (veja-se o conteúdo da segunda referência). Quando se diz que o aperto teria de ser maior, isso não significa que o sacrifício fosse igual para todos: não deveria, não poderia,  sê-lo, mas quem defende maior despesa em favor, por exemplo, dos desempregados, deveria "na passada", dizer aquilo que deveria ser feito para, introduzindo uma majoração desses apoios, diminuir, ainda assim, o défice - não fazê-lo não é ser, politicamente, sério.

  • Competitiveness Gaps Could Hurt Euro - No Really! | afoe | A Fistful of Euros | European Opinion: "[...] According to Strupczewski the “new European Commission report has expressed concern about gaps in competitiveness that could undermine confidence in the euro zone and point to tensions related to wage levels and capital flows in the 16-member club”. The report was prepared for the finance ministers meeting on January 16. Of particular interest the report acknowledges that the real effective exchange rate for Greece, Spain and Portugal is overvalued by more than 10 percent - I would put the Spanish figure at nearer 20%, but still, a start is a start - and this gives us an indication of how much either wages and prices in these countrieshave to fall, or productivity rise, to make them competitive again, given that they are locked into the euro. The report also said that large and persistent differences in competitiveness across the zone are a serious concern and can undermine confidence in the single currency “Competitiveness divergences within the euro area may hamper the functioning of the Economic and Monetary Union, because of large trade and financial spillovers across Member States…….In particular, the persistence of large cross-country differences jeopardises confidence in the euro and threatens the cohesiveness of the euro area,”" 

Enquanto isso, nos EUA ...

As reacções dos economistas de esquerda norte-americanos que mais acompanho, ao discurso de Obama, "the state of Union", não poderia ter sido mais negativa (e não estou só a falar de Krugman, mas de outros que optaram por Obama, logo nas primárias). A razão prende-se com aquilo que anunciou quanto à política orçamental a seguir em 2010, e anos seguintes, que tem na contenção do défice um dos seus aspectos centrais. A tese desses economistas foi sempre que o estímulo governamental (e como consequência, o défice) deveria ter sido maior, não podendo já ser descontinuado devido ao desemprego elevado e à fragilidade da retoma, e argumentando que não existe perigo (para já) de haver tensões inflacionistas criadas pelo política económica até agora seguida. É preciso ter em conta que a situação dos EUA é muito diferente da verificada em Portugal - nomeadamente, a dívida norte-americana é remunerada a taxas muito baixas.

No que se segue, dá-se conta dessas reacções (que têm aliás uma componente de crítica à actuação política do Presidente) e chama-se a atenção para um interesse maior, num ou noutro caso. A última referência diz respeito a uma decisão do Supremo Tribunal dos EUA quanto à possibilidade, a partir de agora, dos interesses corporativos poderem financiar o sistema partidário como um indivíduo qualquer - para esse efeito é-lhes reconhecida personalidade jurídica. A importância, e o perigo, disso são claras. A disfuncionalidade do sistema político norte-americano - os "checks and balances" não funcionam para o poder económico - irá ser potenciado. O epíteto de plutocrata à democracia norte-americana tem cada vez mais todo o sentido. 
  • Econbrowser: A budget freeze? (tem pistas para aquilo que deveria ser feito quanto ao quadro da condução da política orçamental portuguesa) 
 

27 de janeiro de 2010

O que acontece na China não tem só a ver com economia

Como vai a dissidência na China: o episódio mais recente:

NYRblog - What Beijing Fears Most - The New York Review of Books

Astronomy Picture of the Day - 2010 January 27: Tétis e Titã


Tethys Behind Titan 
Credit: Cassini Imaging Team, ISS, JPL, ESA, NASA 
Clicking on the picture will download the highest resolution version available.

Explanation: What's that behind Titan? It's another of Saturn's moons: Tethys. The robotic Cassini spacecraft orbiting Saturn captured the heavily cratered Tethys slipping behind Saturn's atmosphere-shrouded Titan late last year. The largest crater on Tethys, Odysseus, is easily visible on the distant moon. Titan shows not only its thick and opaque orange lower atmosphere, but also an unusual upper layer of blue-tinted haze. Tethys, at about 2 million kilometers distant, was twice as far from Cassini as was Titan when the above image was taken. In 2004, Cassini released the Hyugens probe which landed on Titan and provided humanity's first views of the surface of the Solar System's only known lake-bearing moon."

Astronomy Picture of the Day, NASA (Archive,  2010 January 27)

História de dois países diferentes, na mesma ilha: República Dominicana e Haiti

Já conhecia alguma coisa do que se diz aqui, através do Colapso, de Jarred Diamond (recomendação de leitura sempre actual). É informativa e interessante, a mais de um título.


E continua ... entre outras coisas, é óbvio que os glaciares vão desaparecendo

  • Peer reviewed impacts of global warming: "If the IPCC's mistaken prediction that the Himalayan glaciers would be gone by 2035 taught us anything, it's that we should always source our information from peer reviewed scientific literature rather than media articles. Consequently, I've spent the weekend overhauling the list of positives and negatives of global warming so that all sources were peer reviewed."

Avatar (II) - os Na'vi da Terra



No contexto de alguma da discussão sobre O Avatar - a da inverosimilhança da evolução em Pandora copiar a verificada na Terra - esta notícia até vem a propósito: Aliens visiting Earth will be just like humans, scientist claims | Science | The Guardian.

Mas esta nota - destinada a encerrar o tópico - está subordinada a outro tema da discussão: oa acusação do carácter rosseauiano da imagem criada por Cameron para os extra-terrestres, e a reprodução do mito do "bom selvagem", tudo ideologizado através da visão do mundo ambientalista. A conversa levar-nos-ia muito longe. Por exemplo, Jarred Diamond precisa em The Third Chimpazee, que nalguns momentos, e para algumas populações humanas, foi possível ter sociedades em equilíbrio com o seu meio ambiente [exemplifica algumas dessas situações  no Colapso]. Daí não se retira que essas sociedades fossem idílicas, mas seria curioso perceber como isso se reflectiria na sua percepção que teriam do seu local no mundo. Dando de barato que, em nenhuma altura, houve "o bom selvagem", ficaria a questão de saber é se os "selvagens" em causa se considerariam como "bons selvagens", pelo menos no que respeita a essa questão - se a sua visão do mundo ajuizaria como correcto esse equilibrio. Acontece que pelo menos num caso temos essa informação (ver abaixo)

Uma outro tópico coberto por aquele autor, no primeiro livro citado, foi o do carácter sempre dramático e infeliz dos primeiros contactos entre populações que se desconheciam mutuamente até a um dado momento. A tese é pessimista: nem os seres humanos (nunca foi só o caso das descobertas e da colonização europeias), nem, possivelmente, os seres inteligentes em geral (humanos e extra-terrestres), estariam preparados para gerir, de modo adequado, os primeiros contactos - por isso mesmo, por uma questão de cautela, é que Jared Diamond não acompanha Carl Sagan no seu entusiasmo em nos dar a conhecer ao exterior.

Ora, como George Monbiot recorda, a plausibilidade histórica do que se conta no filme sobre o relacionamento dos terrestres com os na'vi, é mais do que substantivada pelo que se passou com a chegada dos Europeus à América, e em particular, com aquilo que se passava ainda durante o século XIX, nos EUA: Mawkish, maybe. But Avatar is a profound, insightful, important film | George Monbiot | Comment is free | The Guardian.

E para isso ficar ainda mais claro, nada melhor do que comparar a actuação das personagens do filme, quer dos terrestres, quer dos na'vi, com aquilo que os congéneres terrestres disseram no século XIX, nos EUA (é só uma selecção), num situação similitar de luta, pura e dura, por recursos: 

Os norte-americanos falam dos peles-vermelhas (os na'vi terrestres):
  • George Washington " The immediate objectives are the total destruction and devstation of their settlements. It will be essential to ruin their crops in the ground and prevent their planting more"
  • Benjamin Franklin " If it be the Design of Providence to Extirpate these Savages in order to make room for Cultivators of the Earth, it seems not improbable that Rum may be the appointed means"
  • Thomas Jefferson "This infortunate race, whom we had been taking so much pains to save and to civilize, have by their unexpected desertion and ferocious barbarities justified extermination and now await our decisionon their fate"
  • Thedore Roosevelt "The settler and pioneer have at bottom had justice on their side; this great continent could not have been kept as nothing but a game preserve for squalid savages"
  • General Philip Sheridan "The only good Indians I ever saw were dead"
Os peles-vermelhas falam do ambiente, da ecologia, e dos brancos (é a ecologia, é o panteísmo, é o anti-capitalismo...é tão puro na'vi).
  • Treat the earth well: it was not given to you by your parents, it was loaned to you by your children. We do not inherit the Earth from our Ancestors, we borrow it from our Children. 
  • When we show our respect for other living things, they respond with respect for us. ~ Arapaho Proverb 
  • Only after the last tree has been cut down, Only after the last river has been poisoned, Only after the last fish has been caught, Only then will you find money cannot be eaten. ~ Cree Prophecy 
  • "I love this land and the buffalo and will not part with it. I want you to understand well what I say. Write it on paper...I hear a great deal of good talk from the gentlemen the Great Father sends us, but they never do what they say. I don't want any of the medicine lodges (schools and churches) within the country. I want the children raised as I was. I have heard you intend to settle us on a reservation near the mountains. I don't want to settle. I love to roam over the prairies. There I feel free and happy, but when we settle down we grow pale and die. A long time ago this land belonged to our fathers, but when I go up to the river I see camps of soldiers on its banks. These soldiers cut down my timber, they kill my buffalo and when I see that, my heart feels like bursting. Satanta, Kiowa" 
  • "I did not know then how much was ended. When I look back now from this high hill of my old age, I can still see the butchered women and children lying heapen and scattered all along the crooked gulch as plain as when I saw them with eyes still young.And I can see that something else died there in the bloody mud, and was buried in the blizzard. A people dream died there. It was a beautiful dream. . . the nations hoop is broken and scattered. There is no center any longer, and the sacred tree is dead. And while I stood there I saw more than I can tell, and I understood more than I saw; for I was seeing in a sacred manner the shapes of things in the spirit, and the shape of all shapes as they must live together like one being. Black Elk, Lakota" 
  • "We must protect the forests for our children, grandchildren and children yet to be born. We must protect the forests for those who can't speak for themselves such as the birds, animals, fish and trees. Qwatsinas, Nuxalk Nation" 
  • "In the beginning of all things, wisdom and knowledge were with the animals, for Tirawa, the One Above, did not speak directly to man. He sent certain animals to tell men that he showed himself through the beast, and that from them, and from the stars and the sun and moon should man learn.. all things tell of Tirawa. What is life? It is the flash of a firefly in the night. It is the breath of a buffalo in the wintertime. It is the little shadow which runs across the grass and loses itself in the sunset We know our lands have now become more valuable. The white people think we do not know their value; but we know that the land is everlasting, and the few goods we receive for it are soon worn out and gone. Eagle Chief (Letakos-Lesa) Pawnee"
  • "I am poor and naked but I am the chief of a nation. We do not want riches but we do want to train our children right. Riches would do us no good. We could not take them with us to the other world. We do not want riches. We want peace and love. Red Cloud, Oglala Sioux"
  • "Oh, Great Spirit Whose voice I hear in the winds, And whose breath gives life to all the world, hear me, I am small and weak, I need your strength and wisdom. Let me walk in beauty and make my eyes ever behold the red and purple sunset. Make my hands respect the things your have made and my ears sharp to hear your voice.Make me wise so that I may understand the things you have taught my people Let me learn the lessons you have hidden in every leaf and rock. I seek strength, not to be greater than my brother, but to fight my greatest enemy - myself. Make me always ready to come to you with clean hands and straight eyes. So when life fades, as the fading sunset, my Spirit may come to you without shame. Chief Yellow Lark, Lakota"
  • "What is life? It is the flash of a firefly in the night. It is the breath of a buffalo in the wintertime. It is the little shadow which runs across the grass and loses itself in the sunset. Our land is more valuable than your money. It will last forever. It will not even perish by the flames of fire. As long as the sun shines and the waters flow, this land will be here to give life to men and animals. We cannot sell the lives of men and animals. It was put here by the Great Spirit and we cannot sell it because it does not belong to us. Crowfoot, Blackfoot"
  • "Where today are the Pequot? Where are the Narragansett, the Mohican, the Pokanoket, and many other once powerful tribes of our people? They have vanished before the avarice and the oppression of the White Man, as snow before a summer sun.Tecumseh, Shawnee Nation 
  • "How can you buy or sell the sky, the warmth of the land? The idea is strange to us. If we do not own the freshness of the air and the sparkle of the water, how can you buy them? Every part of this earth is sacred to my people. Every shining pine needle, every sandy shore, every mist in the dark woods, every clearing and humming insect is holy in the memory and experience of my people. The sap which courses through the trees carries the memories of the red man. [...] So, when the Great Chief in Washington sends word that he wishes to buy our land, he asks much of us. [...] For this land is sacred to us. This shining water that moves in the streams and rivers is not just water but the blood of our ancestors. If we sell you the land, you must remember that it is sacred, and you must teach your children that it is sacred and that each ghostly reflection in the clear water of the lakes tells of events and memories in the life of my people. [...] If we sell you our land, you must remember, and teach your children, that the rivers are our brothers and yours, and you must thathenceforth give the rivers the kindness you would give any brother. We know that the white man does not understand our ways. One portion of land is the same to him as the next, for he is a stranger who comes in the night and takes from the land whatever he needs. The earth is not his brother, but his enemy, and when he has conquered it, he moves on. He leaves his father's grave behind, and he does not care. He kidnaps the earth from his children, and he does not care. His father's grave, and his children's birthright are forgotten. He treats his mother, the earth, and his brother, the sky, as things to be bought, plundered, sold like sheep or bright beads. His appetite will devour the earth and leave behind only a desert. I do not know.[...] If we decide to accept, I will make one condition - the white man must treat the beasts of this land as his brothers. I am a savage and do not understand any other way. I have seen a thousand rotting buffaloes on the prairie, left by the white man who shot them from a passing train. I am a savage and do not understand how the smoking iron horse can be made more important than the buffalo that we kill only to stay alive. What is man without the beasts? If all the beasts were gone, man would die from a great loneliness of the spirit. For whatever happens to the beasts, soon happens to man. All things are connected. [...] This we know; the earth does not belong to man; man belongs to the earth. [...] The whites too shall pass; perhaps sooner than all other tribes. Contaminate your bed and you will one night suffocate in your own waste. But in your perishing you will shine brightly fired by the strength of the God who brought you to this land and for some special purpose gave you dominion over this land and over the red man. That destiny is a mystery to us, for we do not understand when the buffalo are all slaughtered, the wild horses are tamed, the secret corners of the forest heavy with the scent of many men and the view of the ripe hills blotted by talking wires. Where is the thicket? Gone. Where is the eagle? Gone. The end of living and the beginning of survival. All things share the same breath - the beast, the tree, the man... the air shares its spirit with all the life it supports. Humankind has not woven the web of life. We are but one thread within it. Whatever we do to the web, we do to ourselves. All things are bound together. All things connect. Man does not weave this web of life. He is merely a strand of it. Whatever he does to the web, he does to himself. Chief Seattle, chief of the Suquamis"

American Indian Quotes
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PS (28.01.10): Leiam o comentário que recebi a esta nota dos EUA. É publicidade mas é curiosa.

Um bom conselho

"Nan-in, a Japanese master during the Meiji era (1868-1912), received a university professor who came to inquire about Zen. Nan-in served tea. He poured his visitor's cup full, and then kept on pouring. The professor watched the overflow until he no longer could restrain himself. 'It is overfull. No more will go in!' 'Like this cup,' Nan-in said, 'you are full of your own opinions and speculations. How can I show you Zen unless you first empty your cup?'"
amy99's reviews - StumbleUpon

É uma boa parábola, e útil a toda a gente.

Um olhar sobre o momento que vive a Islândia

Um desabafo de um islandês sobre os políticos, a comunicação social e a universidade do seu país. Curioso.
 
The Curious Case Of The University Of Iceland | Economic Disaster Area

Portugal bem na fotografia



Nota: Clicar para aceder a uma versão maior

Information is Beautiful: giving aid to #Haiti #vizualisation | News | guardian.co.uk

Pode ser-lhe útil

 Tem piada:

17 Reasons You’re Not Losing Weight | Mark's Daily Apple

25 de janeiro de 2010

Avatar


Que o filme "O Avatar" não é um filme trivial, bastaria, mais que não fosse, entrar em linha de conta com as reacções que provocou, e continua a provocar.

Eu gostei do filme, e gostei bastante. Que eu me lembre foi aquele que me proporcionou a sensação mais completa de imersão numa outra realidade; é um filme, esteticamente, belíssimo; a mensagem que carreia não me interpela, nem me agride, nem a nível emocional, nem a nível ideológico. É um filme de esquerda. O enredo não deserve o seu enquadramento formal. É um filme de aventura, de ficção científica, muito melhor nesta vertente, de que muitos outros. Em nenhum circunstância me atreveria sequer a sugerir que seria um grande filme no sentido de vir a obter a consagração canónica que têm todos aqueles que o cinéfilo culto - não é o meu caso - poderia listar. Penso que ninguém, na ausência de uma opinião taxativa do "Cahiers du Cinema" o diria [estou a ser irónico, mas não à custa da revista - sem ela muitos realizadores de primeira linha de Hollywood nunca teriam alguma vez atingido a respeitabilidade e o reconhecimento de muita da intelligentsia da esquerda europeia]. Não que pareça haver dúvidas, no entanto, que será uma referência  na história do cinema pela parte que diz respeito aos efeitos especiais. 

Por isso mesmo, foi muito curioso, particularmente no caso dos EUA, acompanhar as críticas, positivas e negativas, de uma intensidade desmesurada, vindas dos ângulos de análise, e de interesse, os mais díspares possíveis. O seu enredo foi dissecado do ponto de vista científico, político, religioso, militar e económico; as críticas socorreram-se da alusão a referências filosóficas, antropológicas, históricas e cinematográficas; a seu propósito discutiu-se a actuação dos antropólogos na guerra do Afeganistão; a mineração das areias betuminosas no Canadá; o realizador foi acusado de ser um traidor à classe: "contradição: como é que um bilionário faz um filme com este enredo". Enfim, é assim mesmo. Por isso, convenhamos, o filme não é sentido, para o bem, ou para o mal, como um filme trivial, a não ser para (alguns) críticos blasés do Expresso, e outros intelectuais da praça que não lhes ficam atrás. Ah, no entretanto, a esmagadora maioria do comum dos mortais foi ver o filme, com os filhos, e todos gostaram. Ora, aí é que bate o ponto.

O Avatar, como qualquer razoável (boa, como queiram) obra de ficção científica, não é de antecipação. Os aspectos de antecipação que tem servem como quadro da história, como condição de um mínimo de verosimilhança e de consistência  - grandes obras de ficção científica, que falharam de forma total no que respeita à antecipação, continuam a ser grandes obras, e lidas como tal (os que não conhecem, ou não amam a ficção científica, sofrem do síndrome de Júlio Verne). A ficção científica trata sempre do presente; equaciona as perplexidades, as dúvidas, as angústias, do presente, mesmo quando elas digam respeito, também, a preocupações (actuais) quanto às evoluções futuras; o seu quadro formal e instrumental específico serve para destacar, sublinhar, iluminar, tudo isso. E será esse o aspecto que deve ser salientado como mais importante no filme, e que melhor explicará grande parte das reacções: estamos face a um "panfleto" muito bem feito contra certo capitalismo norte-americano actual; contra certa actuação norte-americana em relação aos outros; e insere-se numa crítica mais ampla do que foi (e continua a ser) o relacionamento dos europeus e dos norte-americanos com os indígenas de toda a parte. Como é claro, é também um manifesto em favor da ecologia, da sustentabilidade, e por aí adiante. E é também um projecto comercial, cujo sucesso é medido pelos resultados. É um filme deste tempo; precisamente, deste momento. Percebe-se a reacção da direita norte-americana, e de todos aqueles que dela são "compagnons de route" -  é em parte explicada pelo sucesso popular do filme; pelo facto de milhões de pessoas estarem a absorver desprevenidos (ideologicamente) a "mensagem subliminar" do Avatar. Não se percebe é que intelectuais da esquerda à esquerda do PS, não percebam isso - [esta última frase, sou eu, a ser retórico: claro que percebo!].

Abaixo, as referências que coleccionei a respeito do Avatar. Arrumei-as por tópicos, e em um ou outro caso, chamo a atenção para o seu conteúdo.

As críticas ao Avatar

Na perspectiva da plausibilidade científica (astronomia e exploração espacial)

Avatar: Vision or Mere Entertainment? | Centauri Dreams 


Avatar: Film-making and Human Destiny: "Judging by the abundant reaction to Larry Klaes’ recent article on James Cameron’s Avatar — and by the continuing commentary in society at large — Larry seems to be vindicated when he says the film has become a focal point of discussion for many in the general public. Having engaged in the lively debate in these pages, Larry now wraps up our Avatar coverage with a look at the film’s message and its ramifications, along with comments on its use of science."

Klaes on Avatar: Part Two: "We now wrap up Larry Klaes’ essay on Avatar (and Centauri Dreams’ coverage of the film) with a look at how and why humans will expand into the cosmos, with reflections on our society’s portrayal of aliens and of itself. How much does popular entertainment shape our conception of what we can and cannot do? Do we, as a species, have what it takes to journey out among the stars?"

Athena Andreadis, Ph.D.: Cameron's Avatar: Jar Jar Binks Meets Pocahontas: "The worldbuilding is equally shoddy. As I said in Science Fiction Goes McDonald's, scientific accuracy is not crucial in SF. However, consistency and informed imagination are. A moon as close to a gas giant as Pandora is would be awash in radiation and wracked by earthquakes and volcanoes like Jupiter's Io. Also, its independent biogenesis would give rise to life forms that would not remotely resemble us. But let's concede that point for the sake of audience identification. Since all Pandoran animals are six-limbed and four-eyed, the Na'vi would share these evolutionary attributes. This would actually make them far more interesting."

Na perspectiva da plausibilidade científica (evolução)

Are Dolphins People?: "Lori Marino at Emory University is taking a scientific approach to determining how human dolphis are. She's simply running them through an MRI and measuring the complexity of their brains. The result, unsurprisingly, is that dolphins are extremely smart. Their brains, according to Emory, are more complex than any other non-human brain, beating out Chimpanzees for the title." Não perguntem, mas achei que até fica bem aqui.

Na'vi Cognition and Culture | International cognition and culture Cameron, da próxima vez, terá de contratar Dawkins para unir as pontas [estou a brincar]. O que é impressionante, e voltamos ao mesmo, nenhum filme de FC foi alguma vez sujeito a um escrutínio deste tipo - eventualmente, isto até poderá ser muito bom em termos de enriquecer o enredo das próximas sequelas d'O Avatar 

Na perspectiva religiosa

Op-Ed Columnist - Heaven and Nature - NYTimes.com: (Direita) é a acusação do filme defender o panteísmo.

Open Left:: Ross Douthat's rightwing Christmas delusion: (Esquerda) réplica interessante.

'Avatar' and the faith instinct - latimes.com:  Comenta o primeiro artigo; discute o fenómeno religioso; diz alguns disparates, mas é interessante.

Avatar | Fernando Gabriel | Económico: Inqualificável e é português (se não quiser ler nenhuma outra peça, leia, no entanto, esta).

Na perspectiva da sustentabilidade (Pandora como uma alegoria da Terra)

After this 60-year feeding frenzy, Earth itself has become disposable | George Monbiot | Comment is free | The Guardian: E falem da falta de plausibilidade de alguns dos personagens do filme, ou da sua actuação.

Kevin Grandia | Massey Energy running attack ads against "tree hugging extremists"  Isto não tem a ver com o O Avatar, mas tem a ver com os problemas dos "Na'vi" terrestres.

Na perspectiva da economia e da política


Marginal Revolution: Avatar "[...] People who can reach other planets still fire bullets from machine guns [...]" De acordo, mas o que é ainda mais implausível é que terrestres pensando como aqueles pensam consigam chegar às estrelas - dão cabo do planeta antes disso. Mas, se a nossa gente - os da Exxon e quejandos - conseguisse a tecnologia para chegar às estrelas, agora, do pé para a mão, como acham que seria, digam-me lá!

Avatar is Great and Libertarian - Stephan Kinsella - Mises Economics Blog: "And at its core it was very libertarian: it was about a group of people (the Na'vi) defending their property rights on the world Pandora from aggressors (the human invaders), and about one of the humans (a soldier named Jake Sully) deciding to join and help the right side." Adorei esta: a defesa dos direitos de propriedade, "indeed".

In Defense of Avatar by David R. Henderson -- Antiwar.com: "Some writers who are generally my allies in favor of capitalism and free markets have been critical of the movie Avatar. Reihan Salam, for example, on Forbes.com, writes, 'In a sense, capitalism is the villain of Avatar.' Edward Hudgins, a fan of Ayn Rand, as am I, writes that Avatar is 'loaded with tired, mind-numbing leftist clichés.' But I don’t think Avatar is an attack on capitalism. One could leave the movie and have no idea, based on just the movie, about James Cameron’s view of capitalism. And while it did have some clichés (most movies do), I didn’t find it loaded. So what is Avatar? In fact, Avatar is a powerful antiwar movie – and a defense of property rights. For that reason, I found it easy to identify with those whose way of life was being destroyed by military might. (Warning: slight spoilers ahead.)"

The Case Against 'Avatar' - Forbes.com: "For the last 200 years, humans have grown taller, stronger and healthier. This progress has been fastest in the countries that gave rise to the Industrial Revolution, yet it has spread throughout the world, sparking a transformation that economists Robert Fogel and Dora Costa call techno-physio evolution, 'a synergism between technological and physiological improvements that is biological, but not genetic, rapid, culturally transmitted, and not necessarily stable.'" Este não ouviu falar da dieta do paleolítico, nem do que se passou na passagem do paleolítico para o neolítico. Isto que diz é verdade, mas pressupõe que nós, os filhos da industrialização, somos mais saudáveis do que os povos primitivos que ainda existem: não somos!

Russian Communists: Ban Avatar! | FP Passport: "U.S. conservatives have blasted James Cameron's blockbuster space epic Avatar for depicting U.S. marines as villains, others have critiqued it as a patronizing tale of a white American rescuing a native people from the ravages of imperialism, but the most unique criticism of the film yet may come from the St. Petersburg Communist Party:" É o nonsense total.

Na perspectiva da formatação dos espíritos (particularmente, das criancinhas)

Avatar, not Ed, will make the case on climate: "[...] My son believes in these creatures' message and has started lecturing me on my environmental commitment. Why do we need to cut down a tree for Christmas? Does he really need all that packaging round his new iTouch (he does, however, still need the iTouch). The film is brilliant PR -- smug and simplistic but effective and energising. [...]No wonder the American Right hates it, with one commentator calling it 'a deep expression of anti-Americanism'. They understand that any nation that loves this movie will not want to continue pumping oil out of the Alaskan National Park. [...] It may not be every 40-year-old's first choice, but anyone with children -- which includes most politicians -- is likely to see it. [...]The political elite is beginning to get the message -- audiences do care about the planet, they just don't want to be lectured about it by hypocritical politicians. They want help to do their bit, not hectoring. Avatar isn't Star Wars, Apocalypse Now or even The Lord of the Rings: it's not a classic. But few films manage to change perceptions. The Sound of Music rehabilitated the Austrians, Guess Who's Coming to Dinner ridiculed racism, Philadelphia maybe changed our views about Aids, Kramer vs Kramer tackled divorce. Dr Strangelove made the best case for unilateral nuclear disarmament. [...]" 

Na perspectiva militar, e antropológica

Avatar: anti-capitalist, not anti-military - Dragonfly - Open Salon

Open Left:: Avatar, Afghanistan & Obama's limited war on the "War on Science" 


Wax Banks Bem, não sei ...


The Oil Drum | The Avatar Movie and the Mining of Oil Sands Pois - eu não me daria ao trabalho de abrir a referência. É só como piada que a coloquei aqui.


Correio da Manhã: Joana Amaral Dias "Para Philip K. Dick, na ficção científica não se fazem predições, inventam-se outras sociedades ou outros universos, tendo como matriz a nossa realidade. Os protagonistas não são as personagens, mas as ideias. No caso de ‘Avatar’, as ideias visuais. O seu realizador, J. Cameron, realmente criou um novo mundo, de árvores colossais, flores fosforescentes, fauna estrambólica e gigantes azuis que falam uma língua bizarra. E é por esse universo de detalhe e espanto que o filme vale. Não pelas suas personagens ou história.". Boa citação de Philip K. Dick. Depois, é aquilo que se poderia esperar...

Da profissionalização da política

De alguém com quem poucas vezes estou de acordo - desta vez estou mesmo de acordo, embora com algumas qualificações menores. Por exemplo, uma seria esta: os políticos. além de deverem ser profissionais, deviam ter uma cultura de banda larga, que lhes possibilitasse no mínimo saber aquilo que não sabem. A especialidade, a sua formação, dos políticos deveria caracterizar-se por ser generalista - não é um oximoro. Essa formação contribuiria para a minimização dos erros devidos ao analfabetismo sectorial de muitos - a chicana pode ser necessária a um político, mas não é metodologia para governar, nem expediente táctico a utilizar muitas vezes: tem o perigo de viciar.

"Há em Portugal a percepção de que os chamados “políticos profissionais” são prejudiciais para o país. Tenho a opinião contrária: os políticos profissionais são indispensáveis; desde que sejam bons e competentes, obviamente. Se há algum problema no nosso país é o excessivo amadorismo de muita da classe política.[...] Há igualmente, em Portugal, em certo diletantismo em relação à política. Há quem julgue que basta gostar de política e ser brilhante para se tornar num político. É um erro. Não basta escrever opiniões inteligentes, dizer umas tiradas com graça e imaginar cenários para ter sucesso na política. Se isso acontecesse, seria o triunfo da preguiça. Há, ainda, o que chamo a visão ingénua. Uma pessoa fez uma carreira profissional com sucesso, é de uma grande competência e seriedade profissional, percebe que o país enfrenta problemas e julga saber as soluções. Resolve então, perdoem a expressão, 'fazer uma perninha na política'. [...] Uma das consequências inevitáveis da democracia é a profissionalização da política. Como actividade profissional, a política é simultaneamente única e semelhante às outras profissões. Exige, por um lado, uma vocação e uma intuição inatas que não se adquirem. Nisso, tem algumas semelhanças com as artes e os desportos. É ainda uma profissão muito dura, onde as pressões, os conflitos e os desafios exigem uma grande preparação e capacidade de trabalho. Tal como noutras profissões, só se atinge a excelência com muita experiência e após muitos anos de trabalho e dedicação plena. [...]."

Políticos profissionais | João Marques de Almeida| Económico (deve ser lido na totalidade).

Ainda sobre Manuel Alegre (II)

De alguém com quem tenha estado, quase sempre, de acordo - desta vez, não consigo enfatizar de modo adequado quão de acordo estou com o que se diz abaixo (o artigo deve ser lido na totalidade):  

"Joana d´Arc e De Gaulle 'ouviam vozes'. Há sempre quem nos queira convencer de que responde a um apelo interior. É desta massa que nascem os mitos. Só que a situação não está para fantasias. Temos problemas imediatos e difíceis, não temos em frente de nós uma planura para despiques e correrias. Temos quem está, muitas vezes pouco bem, mas está e vai melhorar. 

Se Alegre quer experimentar a lança que o faça nesse torneio, nos próximos doze meses. Que considere Cavaco o seu adversário, não Sócrates, os soaristas ou o PS relutante. 

Que mostre arreganho, conhecimento, engenho e também tolerância para os seus amigos discordantes. Que nos fale de coisas terrenas, com estatísticas, não com mitos. Que nos diga se nos propõe estimular o Governo a controlar o défice e a dívida, ou se não trata dessas miudezas. Se vai valorizar a inovação, o risco, a competitividade, o espírito empreendedor, ou se acha que a solução da crise está em aumentar a despesa social. Provavelmente não convencerá uma maioria, mas terá cumprido uma missão."

Para cruzar com o que se referiu, ou reproduziu, aqui e aqui.


23 de janeiro de 2010

Por favor, tomem nota! [Nota: Esta exortação deve ser lida em voz alta em tom enfastiado]

"The invention of movable type led to a paradigm shift in communication. It was the midwife of the modern world. At the time, however, it seemed merely that monks would have to find things other than copying biblical texts to do with their days. The internet has always been different. Almost from its inception, trying to gauge where the world wide web might take us has been a major preoccupation of commerce, not least the newspaper industry. 

The government, equally, has pondered how it might be used. Predictably, its first instinct was simply to use it to do what it was already doing but a bit more quickly. But this week it dramatically raised its game, with the launch of new website, data.gov.uk, which has met with a warm reception. It puts into the public domain every bit of information collected by public bodies that is not personal or sensitive, from alcohol-attributable mortality to years of life lost through TB. Happily, not all the data sets deal with death. 

Even a generation ago most of the vast amount of data collected by government was unavailable, and some of it – such as the location of the Post Office tower – was classified as an ­official secret. At the very least this amounts to agenuine ­culture change in what has always been a deeply ­conservative ­bureaucracy. At its most ­powerful, it could transform the nature of power."  

Continuar a ler em Government information: Creative commons | Comment is free | The Guardian

Existem um conjunto de coisas más que vão suceder, haja ou não aquecimento global à vista, mas o mais curioso face à inacção, é que a resposta a qualquer delas passa por actuações que vão de encontro à resolução (ou, ao menos à mitigação e adaptação) do aquecimento global

"Forget Peak Oil. Forget climate change. Peak water is where it’s at, according to Scottish journalist and broadcaster, Alexander Bell, who has just written a fascinating book, Peak Water (Luath Press, Scotland). “It’s the coming issue of our age,” says Bell. “Civilisation is thirsty. It has never stopped to think about what would happen if the water ran out.” And while Bell acknowledges tackling climate change is important, he firmly states peak water would have happened with or without it." 

'Peak water' could flush civilisation - The Irish Times - Sat, Jan 23, 2010

E continua ...

22 de janeiro de 2010

Uma maneia de parafrasear um velho ditado noutro sentido - e fundamentada na ciência

"Power corrupts, but it corrupts only those who think they deserve it" 
 The psychology of power: Absolutely | The Economist
 

Números interessantes



"Se toda a população mundial consumisse como a média dos portugueses, seriam precisos 2,6 planetas Terra para os fornecer. Mas se fossem todos como os norte-americanos, 6 planetas Terra não chegariam. Dividindo a área produtiva da Terra pela população, obteríamos 2,0 hectares por pessoa. No entanto, a pegada ecológica média dos terráqueos é de 2,9 hectares por habitante. Isto significa que estamos a consumir 45% acima do sustentável. Assustador, não é?" 

Sustentabilidade é Acção: A ameaça do consumismo - Despertemos os adormecidos

Ainda a situação da Zona Euro, e também os pormenores do cálculo da dívida pública grega (pedagógico)

  • After the Crisis, Much Still at Stake for Eurozone « iMFdirect: "What a difference a year makes. January 2009 marked 10 years since the introduction of the euro. That anniversary fell in the midst of the worst global financial crisis in the past half century. The euro—and the European Central Bank—proved important safeguards against the spread of the crisis. Countries whose currencies would likely have been subject to severe market gyrations had they not been part of the eurozone held their ground. And the ECB used innovative approaches, along with central banks around the world, to help provide liquidity and calm markets. But as the crisis progressed, it became clear that the eurozone countries were affected in very different ways. Markets took notice and the premia charged on sovereign bonds diverged. This month, as the euro turns 11 and even as the crisis is receding and an economic recovery is underway, prominent commentators—including Martin Wolf and Paul Krugman—are concerned that the strains within the eurozone are serious, and will need serious attention." Muito bom.