28 de fevereiro de 2008

SEDES e o mal português

Assisti, esta noite, a um debate na SIC Notícias, com Campos e Cunha e Ribeiro Mendes, a-propósito do documento da SEDES, vindo a público há alguns dias, sobre o "mal português". Retive, entre muitas, estas afirmações (para memória futura e, no primeiro caso, para acrescentar alguma coisa, ao fim da nota):
  • a ausência de líderes políticos - no actual panorama político nacional e europeu - definidos como sendo aqueles que antecipam os problemas e que actuam em conformidade - a contrário, a difusão do político enquanto "representante", vivendo da gestão do dia-a-dia da pequena política, daquela determinada pelas sondagens, etc.;
  • a legislação é feita em grupos de trabalho que investigam quais são as melhores práticas e, depois, vertem isso na legislação nacional, esquecendo o facto do contexto ser diferente (o que altera as condições de eficácia dos dispositivos legais);
  • como se efectua o processo de decisão sobre os grandes projectos e as grandes questões: não existe a prática dos livros verdes, brancos, a sustentar a sua discussão pública;
  • o carácter asfixiante da regulamentação que dificulta, mas que possibilita, a posteriori, vender as "facilidades".

No que respeita à questão dos líderes, existe outra tipologia (do que conheço), mas confluindo com a referida por Campos e Cunha. Apanhei-a num livro de Howard Gardner (já lá vão mais de dez anos), Leading Minds - An anatomy of leadership, Harper Collins, 1996. Distingue entre: the ordinary leader; the innovative leader and the visionary leader:

"The ordinary leader, by definition the most common one,
simply relates the traditional story of his or her group as effectively as
possible ... does not seek to stretch the consciousness of his contemporary
audience. We can learn about the commonplace stories of a group by examining the
words and the lives of ordinary leaders; we are unlikely to be able to
antecipate the ways in which that group will evolve in the future."

"The innovative leader takes a story that has been latent
in the population, or among the members of his or her chosen domain, and brings
new attention or a fresh twist to that story. In recent world history,
neither Thatcher nor de Gaulle ... created wholly novel stories. Rather, it was
their particular genius to have identified stories or themes that already
existed in the culture but had become muted or negleted over the years...
these innovative leaders may succeed in reorienting their times."

"... the visionary leader... this individual actually
creates a new story, one not known to most individuals before, and achieves at
least a measure of success in conveying this story effectively to others... I
view individuals like Gandhi and Monnet as visionary leaders for our
time."

Que tipo de líderes necessitamos para os tempos que se avizinham?

Retórica e política (III)

"With words we govern men"

- Benjamin Disraeli

Como fazer?

Luís Silva Morais fala sobre o mais recente surto de visibilidade da corrupção, em Portugal, no Diário Económico, na coluna: Corrupção, valores e eficácia. Interessante, particularmente (para mim), este excerto do artigo (cruza com outras notas deste blogue: ver aqui, por exemplo):





"O problema português será, sobretudo, um problema de eficácia e não de um suposto défice de valores, que nos coloque numa qualquer posição de penumbra ética e existencial face às outras economias mais desenvolvidas. Trata-se de um problema de rapidez e qualidade dos processos de decisão da administração pública, dos reguladores e dos tribunais.




Importa, assim, concentrar energias reformistas na melhoria gradual e continuada desses processos de decisão (introduzindo nessas reformas um elemento sistemático e uma atenção aos pormenores executivos, que muitas vezes escapa a uma cultura de aparato mediático e refractária à convicção prática, anglo-saxónica, de que ‘the devil is in the detail’). São, em muitos casos, alterações de organização e de processos de funcionamento que se fazem de múltiplos pequenos passos, que, a prazo, permitem a formação de uma generalizada cultura de eficácia."

Euro e a conjuntura

Editorial do Diário Económico sobre o comportamento do euro e a actuação do BCE: Medo de baixar os juros. Inclino-me a considerar que o BCE está actuar bem, mas o tempo o dirá. Mas não me peçam para fundamentar a percepção - teria de rever a matéria e recolher mais informação: e.g., qual é elasticidade da resposta da economia europeia a uma baixa da taxa de juro quando esta já está em 2%?; em que medida as diferenças entre as economias norte-americanas podem explicar (e obrigam) a diferença de actuação do BCE e do FED?; a eficácia dessa medida de política não seria maior num quadro de maior certeza sobre a evolução da situação e com a dimensão actual da taxa de juro ainda preservada? A minha ignorância é grande. Em todo o caso a peça vale por lembrar algumas coisas e apontar outras que devemos ter em conta - embora diga, ainda, outras, não do modo mais correcto.
O texto com comentários (parêntesis recto):


"Ontem, a moeda única europeia ultrapassou pela primeira vez 1,51 dólares. Nunca o euro valeu tanto face à moeda norte-americana. As razões imediatas são conhecidas: a recessão quase certa nos Estados Unidos. Os investidores estão a fugir dos activos em dólares porque as perspectivas de ganho são fracas. Fica o euro a ganhar. E esta tendência vai manter-se durante este ano.


Mas há uma leitura política que deve ser feita. Esta valorização é uma vitória do projecto europeu de união económica e monetária. É preciso ter memória. Nem sempre foi assim. Quando arrancou – o euro nasce como moeda escritural em 1 de Janeiro de 1999 –, poucos acreditavam que tivesse sucesso [não é verdade!]. Em Maio de 2001, andava pelas ruas da amargura [mais que não fosse por isso: a história do comportamento relativo do dólar em relação ao euro demonstrava que algures no futuro o euro ir-se-ia valorizar, e em todo o caso, uma moeda estar desvalorizada não pode ser lida "como andar pelas ruas da amargura"] . Mas a verdade é que fez o seu caminho de credibilização e hoje ameaça o dólar enquanto moeda dominante na economia mundial.


É também uma vitória do Banco Central Europeu (BCE). O seu estatuto de independência face aos políticos e a forma como tem conduzido a política monetária explicam muito do sucesso do euro. Ontem, os banqueiros centrais europeus tinham motivos para abrirem garrafas de champanhe. Mas a festa deve ser curta. O euro forte coloca a sua estratégia em xeque.Todos pedem uma descida dos juros. Políticos [além do Sarkozy, quais?], economistas [gostava de saber quais e qual a argumentação] e empresários pedem que Jean-Claude Trichet acompanhe Ben Bernanke, presidente da Reserva Federal, e dê uma injecção de política monetária expansionista na economia europeia. O BCE tem resistido. Prefere sublinhar as pressões inflacionistas resultantes do petróleo acima dos 100 dólares. E recorda que no seu ADN está a filosofia do alemão Bundesbank: controlar a inflação acima de tudo, mesmo que tenha consequências negativas para o crescimento económico e o emprego [quanto muito só no curto prazo; não gosto como isto é dito].



É aqui que entra o euro em alta e estraga a argumentação do BCE. Com a moeda europeia tão valorizada contra o dólar, o petróleo sai barato. Ontem, o barril vendeu-se a 102,08 dólares. Quem pagou na moeda europeia, só precisou de 68 euros. Ou seja, o euro forte é um escudo contra a inflação importada [não percebo: se baixar a taxa de juro, de modo significativo, isso tenderá a diminuir a força do euro]. É verdade que há outras ameaças para a evolução dos preços. Há outras matérias-primas com fortes valorizações e há o perigo das subidas salariais. Contudo, o arrefecimento da economia é um forte analgésico contra a inflação. Menos consumo, logo menos pressão sobre os preços. Portanto, cruzando toda a informação, os banqueiros centrais não parecem ter razões para tantas cautelas. Estão agarrados à sua ortodoxia habitual. Ao contrário do voluntarismo da Reserva Federal, o BCE prefere pagar para ver. Vai esperar pela dimensão do impacto da crise internacional na economia. A Comissão Europeia já reviu em baixa o crescimento para um valor abaixo dos 2%. Não parece ser suficiente. Mais uma vez, o BCE está a ser reactivo. Vamos ver se não actua tarde demais, deixando cair a Europa em recessão. A festa do euro alto passaria a pesadelo."
PS: (28.03.01) Ver a este propósito um artigo de Samuel Brittan, The pressure on UK living standards
, no Financial Times. Um excerto: "My worry of substance relates to the international context. Despite the rise in commodity prices, there are recessionary pressures throughout the western world. Should the UK risk adding to them? The orthodox answer is that any expansionary policies should come from Asia. But how realistic is this? China already has a 7.2 per cent inflation rate; and how many of the oil producers could sensibly absorb much more domestic spending? A convincing justification for the UK not following the US and pulling out all stops to offset the credit crunch would have to depend on some combination of the following considerations. The US faces greater recessionary dangers than the UK, which is now too small a part of the world economy (just 5 per cent) to set an example; and the US still has the broadest shoulders to bear the expansionary burden.

We can all moralise about the risks that Ben Bernanke, Federal Reserve chairman, is taking to keep the US afloat; but many of us must feel a sneaking relief that he is taking them."

Políticas e cidadãos

João Wengorovius Meneses, no Diário Económico, no artigo Sim, nós podemos!, refere aquilo que começa ser trivial dizer em dados círculos (ver também aqui), mas que o não é, infelizmente, a nível mais geral das elites, particularmente, as político-partidárias - a participação dos cidadãos é determinante para a eficiência e perdurabilidade do sistema democrático. O reconhecer o problema, aliás, não será mais do que o primeiro passo - a grande dificuldade consistirá no congregar das vontades, contrariando os interesses no "statu-quo", e em saber como fazê-lo - não se pode, nunca, esquecer que as coisas são o que são, porque há (boas e más) razões para tal acontecer (e.g., existem efectivos obstáculos à participação e mobilização cívica dos cidadãos que decorrem do modo como são dadas algumas características das sociedades modernas - veja-se a introdução do O Ataque à Razão de Al Gore, Ed. Esfera do Caos).



Excertos de (quase todo) o artigo (o bold é meu):




"No início da década de 1980, Pierre Rosanvallon anunciava, em França, aquilo que os economistas já tinham começado a prever – a crise do Estado-Providência. Essa crise era, antes de mais, crise financeira do Estado, pois a transição demográfica associada ao aumento da esperança de vida e à acrescida extensão e generalização dos direitos sociais (por exemplo, subsídios de desemprego e doença e pensões de reforma), exigia uma proporção crescente de despesas públicas nas funções sociais e, com ela, a necessidade de níveis crescentes de impostos e de contribuições para a segurança social dificilmente sustentáveis.Para além do anúncio da crise, Pierre Rosanvallon tornava claro que se devia evitar a falácia de se considerar que as alternativas eram apenas mais Estado ou mais mercado.



O reforço do puro estatismo levaria garantidamente a uma insolvência a prazo; por seu lado, o caminho da privatização das funções passíveis de serem privatizáveis (saúde e pensões de reforma, por exemplo) poderia significar a regressão dos objectivos redistributivos e de justiça social subjacentes à própria noção de Estado-Providência. O caminho passaria então por um reforço da sociedade civil: por um renascimento das solidariedades pessoais, pela participação de cada cidadão e pela assumpção por parte do terceiro sector de algumas das funções Estado.




Nas sociedades europeias actuais, praticamente resolvido o problema da paz, assumem uma crescente importância a qualidade de vida e a coesão social. Porém, geralmente as administrações públicas estão mal preparadas, não por falta de interesse mas pela sua própria natureza, para a actividade de melhorar a qualidade de vida ou ajudar as pessoas em situação de exclusão social. E, no curto prazo, pouco será de esperar das empresas. Qual foi a variável que ficou de fora? A sociedade civil, claro.Também para Anthony Giddens, o futuro da democracia depende do fomento de uma profunda cultura cívica. E nem os mercados nem uma pluralidade de grupos de interesse especiais podem produzir essa cultura. Aliás, “temos de deixar de pensar que a sociedade é composta apenas por dois sectores: o Estado e o mercado, ou o sector público e o sector privado. Entre estes dois encontra-se a área da sociedade civil, que inclui os cidadãos, a família e as instituições do terceiro sector.”



...Ontem, no jornal Público, Vital Moreira alertou para a necessidade da modernização do sistema político não consistir apenas na eliminação as suas disfunções, não devendo perder de vista a renovação da democracia e o incentivo a uma maior participação. É o mesmo apelo que dirige ao Estado no recente relatório da SEDES: “abrir urgentemente canais para escutar a sociedade civil e os cidadãos em geral.”



Há uns anos, Geoff Mulgan, um dos autores da “terceira via” e na altura ‘head of strategy’ de Blair, deixou a política para liderar a Young Foundation. Geoff percebeu (a tempo) que o Estado social depende mais da sua actuação ao nível das respostas às necessidades sociais do que das suas estratégias. Para ele, há uma revolução por fazer ao nível da educação, da saúde, do ambiente, da justiça, da qualidade de vida, que depende de uma sociedade civil dinâmica e participativa. Sem cidadãos verdadeiramente disponíveis, fica comprometida a hipótese de um Estado social, de uma sociedade de igualdade de oportunidades, bem-estar e coesão social."

França e política económica: elementos de comparação com Portugal

Esta entrevista, no Nouvel Observateur, sobre a política económica conduzida por Sarkozy: Vers une dégradation économique continue, faculta-nos, para além das diferenças óbvias sobre as duas situações, elementos de comparação para a reflexão do que se passa em Portugal, mais que não fosse porque pertencemos à mesma zona económica e monetária. Sobre o mesmo ver o que se disse aqui. Alguns excertos:


"Personne ne peut reprocher à un homme politique de ne pas prévoir des chocs par nature imprévisibles. En revanche, un homme d'Etat ne doit jamais fonder son action sur des hypothèses d'optimisme extrême. Il doit prendre des décisions qui laissent une marge à l'occurrence de ce type d'événement. Ce que je reproche à Sarkozy, c'est d'avoir fondé ses prévisions sur des taux de croissance irréalistes en l'état actuel de notre économie."

"Il a commis deux erreurs fondamentales La première : ne pas remettre de l'ordre rapidement dans les finances publiques. Un Etat endetté est un Etat impuissant. La seconde : distribuer en année pleine 14 milliards d'euros de cadeaux fiscaux aux ménages."


"Je pense que la peur du changement l'emportera sur les nécessités de fond. En 1983, Mitterrand a changé de cap parce qu'il y était forcé. Aujourd'hui, avec l'euro, il n'y a pas de mur car il n'y a plus de problèmes de réserves de change. La dégradation risque d'être continue. Et silencieuse."

26 de fevereiro de 2008

Retórica e política (II)

Mais sobre a retórica de Obama (ver também aqui). Gideon Rachman escreve no Financial Times sobre isso em Obama and the art of empty rhetoric. Conclui assim:



"And while Mr Obama’s most “inspirational” phrases are vague to the point of vacuity, he has shown in a series of television debates that he is more than capable of serious discussion. You do not get to be president of the Harvard Law Review if you cannot cope with detail.


So Mr Obama is not relying on empty exhortation because that is all he is capable of. It is a deliberate political strategy. And it makes sense. The more a candidate gets stuck into the detail, the more likely he is to bore or antagonise voters. Appealing to people’s emotions is less dangerous and more effective.


Bill Clinton has said sniffily of Mr Obama that “I think action counts more than rhetoric”. The argument of Hillary Clinton’s campaign is that just because Mr Obama gives great speeches, it does not mean that he will be a great president. I would reverse that. Just because Mr Obama gives lousy, empty speeches, it does not mean that he will be a lousy, empty president."

Fluxos financeiros e globalização

Dani Rodrik and Arvind Subramanian afirmam num artigo no Financial Times que We must curb international flows of capital.



O parágrafo final sintetiza a sua tese:



"It is time for a new model of financial globalisation, one that recognises that more is not necessarily better. As long as the world economy remains politically divided among different sovereign and regulatory authorities, global finance is condemned to suffer deformations far worse than those of domestic finance. Depending on context, the appropriate role of policy will be as often to stem the tide of capital flows as to encourage them. Policymakers who view their challenges exclusively from the latter perspective will get it badly wrong."


Os parágrafos anteriores discutiam o mérito dos fluxos de capitais (na dimensão actual):



"But will not such interference with capital flows reduce the benefits of financial globalisation? Even leaving financial crises aside, those benefits are hard to find.

Financial globalisation has not generated increased investment or higher growth in emerging markets. Countries that have grown most rapidly have been those that rely least on capital inflows. Nor has financial globalisation led to better smoothing of consumption or reduced volatility. If you want to make an evidence-based case for financial globalisation today, you are forced to resort to indirect and speculative arguments. "

Obama: observação sobre Israel

Matthew Yglesias refere uma observação de Obama sobre Israel: Getting Bolder (Foreign Policy). Tenho de confessar: isto, no meio de eleições, eleições norte-americanas, é ousado e muito, muito, interessante. A frase, citada de outro blogue, é a seguinte:



"I think there is a strain within the pro-Israel community that says unless you adopt an unwavering pro-Likud ap-proach to Israel, then you're anti-Israel, and that can't be the measure of our friendship with Israel," leading Democratic presidential contender Illinois Senator Barack Obama said Sunday."If we cannot have an honest dialogue about how do we achieve these goals, then we're not going to make progress," he said.He also criticized the notion that anyone who asks tough questions about advancing the peace process or tries to secure Israel by anyway other than "just crushing the opposition" is being "soft or anti-Israel."

Oceanos: o impacto da actividade humana


A extensão do impacto das actividades humanas nos sistemas marinhos é dada por este mapa da responsabilidade de Halpren et al. num artigo publicado na Science: "synthesis of spatial data on the distribution and intensity of human activities and the overlap of their impacts on marine ecosystems". O blog Deep Sea News comenta e qualifica os dados do mapa em The Human Impact on Marine Systems, O mapa fala por si.

Mar e pesca - o que era; o que é e o que será

A nota é Andrew C. Revkin, no Dot Earth, do New York Times Blog: Our Exhausted Oceans. Ela fala por si e a minha convicção (já antiga) é que nesta matéria deveria fazer-se muito mais, quer no país, quer na região - o que se faz num dado momento não deve ser direccionado só para aquilo que foi considerado problema até então, mas, principalmente, para as questões de que o futuro é portador: deve ser o futuro a determinar o que fazemos no presente. E conseguimos saber o que o futuro nos traz, se formos suficientemente contemporâneos do presente - se utilizarmos de modo eficaz toda a informação disponível e relevante em cada momento e o exemplo das melhores práticas. A maior parte dos decisores vive no passado - daí aquele expressão dos (maus) generais estarem sempre preparados para travarem a última guerra.
Excertos (o bold é meu; comentário entre parêntesis recto):
"I’ve written off and on about research revealing that ocean resources today are a pale shadow of the extraordinary abundance of just a few generations ago, and I touch on this theme again in a Science Times feature this week on new maps of human impacts on the sea. Societies tend to have “ocean amnesia,” in the words of some scientists and campaigners who’ve highlighted the recent, and largely unnoticed, vanishing of marine life. Daniel Pauly of the University of British Columbia coined the phrase “shifting baselines” to describe how our definition of “normal” changes over time."
"A growing body of research shows that significant increases in fish populations could come with the expansion of marine reserves, more careful oversight of shared ocean resources like bluefin tuna, and education of fishing communities around coral reefs [de todas as comunidades piscatórias]. But the pressures on marine fisheries appear to be mounting faster than the push for new practices to shift to more sustainable harvests."

"Sylvia Earle, the oceanographer and explorer, sees no future for wild harvests, given rising human populations and their growing appetite for protein. “One way or another, commercial fishing as a way of life does not have a future, any more than market hunting of terrestrial birds and furry creatures,” she said in an e-mail message on Monday, just after returning from the Galápagos. “Our long-ago ancestors lived by hunting and gathering wild things, a recipe for success that worked when our numbers were small and the wild world was relatively intact. Six billion people cannot be sustained on bush meat from the land — or from the sea.
PS: Sobre o mesmo ver também aqui
uma nota do blogue Shifting Baselines.

Eficiência energética na construção civil - o exemplo alemão

Via Climate Progress, informação do Telegraph sobre os objectivos da Alemanha no que respeita à eficiência energética na construção civil, e sobre as políticas que sustentam a sua prossecução:Follow Germany's lead, invest to save energy. Um excerto (o bold é meu):


"...The German government is set to make a "quantum leap in energy efficiency", improving it by 3 per cent a year - rather than the 1 per cent required under European law. According to economic minister Michael Glos, this will make Germany "one of the most energy efficient regions (sic) in the world.". His colleague environment minister Sigmar Gabriel emphasises that cutting out waste is far more cost-efficient than building new power stations, whether coal-fired or nuclear. No new nuclear plants have been built in Germany for 25 years. Nobody plans to build any.


"Instead the government has introduced a "carbon dioxide refurbishment programme", as an integral part of Germany's climate change programme and growth and employment programme. The programme is designed systematically to upgrade the entire building stock to "contemporary standards" across a 20 year period. It is very instructive to observe how this is happening. And the detailed involvement of the German government throughout."

25 de fevereiro de 2008

Portugal tem que pensar

João Marques de Almeida diz no Diário Económico Portugal tem que pensar. Seria trivial afirmar isso mas, acontece que em Portugal, em muitas situações, o trivial de uns, nem é relevado como importante por muitos - e em muitos casos, nem é admitido por estes como sendo um problema. Daí a necessidade de afirmar, pedagogicamente, uma e outra vez, algumas coisas triviais, dando-lhe, de preferência, algum carácter operacional, de modo o discurso ter alguma eficácia. Este artigo faz bem em relembrar este problema consabido (por alguns) mas fica muito para dizer - mesmo as causas dele não ser equacionado, pelo menos, são diversas. Excertos do artigo (o bold é meu e faço comentáris entre parêntesis rectos):


"No nosso país, não se pensa politicamente. É óbvio que alguns, individualmente, pensam e bem. Mas pensar políticas de um modo sistemático e organizado, não se faz. Em Portugal, há duas escolas dominantes sobre o modo como se deve “pensar” a política. A escola ideológica, que substitui o pensamento pela ideologia, não sendo capaz de escapar ao dogmatismo. É um obstáculo a políticas reformistas, recorrendo a argumentos ideológicos, misturados com muito populismo e demagogia, para as travar. É a escola dominante na extrema-esquerda e em parte do PS. Do outro lado, está a escola anti-ideológica, que desvaloriza a actividade intelectual e recusa qualquer tipo de debate conceptual ou de ideias. Basicamente, acreditam que “aqueles que estão na política” (visto que o seu anti-intelectualismo vai ao extremo de negar as virtudes da condição do político) devem “governar” e “executar”, e não pensar. Aliás, o estado em que está o nosso país mostra que muitas vezes têm razão. É a escola dominante em grande parte do centro-direita português. ....



.... Ou Portugal muda (e têm que mudar todos; a culpa não é deste ou daquele, é de todos), ou vai continuar a afundar-se na cauda da Europa. Mas agora, com 27, a cauda está muito mais longe da cabeça. Não é uma opinião, é um facto. Tudo isto vem a propósito do mundo dos ‘think-tanks’ europeus. Para um português, é uma grande desilusão olhar para redes de ‘think-tanks’ europeias, e não encontrar um único representante português. Aqui falo mais das áreas das políticas públicas ... Mas Portugal, nada. O primeiro obstáculo tem a ver com a atitude dos partidos políticos em Portugal. De um lado, julga-se que a ideologia chega; do outro lado, desvaloriza-se o pensamento.


De um modo transversal, há um problema comum: pensar a sério dá muito trabalho. É preciso ler, e muitas vezes leituras que não estimulam, mas informam, é preciso persistência, é preciso humildade, para se continuar a ter vontade de aprender e é preciso paciência e determinação para educar, para formular políticas públicas e para convencer. Infelizmente, tudo isto escasseia em Portugal. Em nenhum país europeu, passaria pela cabeças dos responsáveis dos principais partidos não ter ‘think-tanks’ a trabalhar com eles. As políticas públicas têm que ser formuladas com tempo e integradas numa estratégia política. E é na oposição que isto se faz, não é quando se está no governo
[e quando não se faz na oposição não há remédio se não fazê-lo no Governo]. E chegar ao poder sem se ter feito o trabalho de casa, é o caminho mais rápido para o fracasso. Na política, tal como na vida, não há milagres.


O segundo problema está na sociedade portuguesa. Se em muitos aspectos, somos uma sociedade europeia, há outros em que continuamos a resistir à “Europa”. Por exemplo, na nossa incapacidade em pensar de um modo sério e aprofundado os problemas políticos, económicos, e sociais do nosso país. E fazê-lo com outros europeus, que enfrentam os mesmos problemas. ... Enquanto não se pensar a sério em termos das políticas públicas adequadas, Portugal não sairá do ciclo negativo dos últimos dez anos. Há um duplo esforço a fazer: convencer os partidos políticos
[como? e com que resultados?] e aproveitar as vantagens de “estarmos na Europa”.

Vícios privados, públicas virtudes?

Artigo de Francesco Alberoni, no Diário Económico, Vícios privados, públicas virtudes? Não poderia estar mais de acordo - o que aqui se diz sobre Itália, aplica-se a Portugal. Tenham a atenção à importância que dá à pequena actuação, ao pequeno gesto, à pequena disciplina. Excertos (o bold é meu):




"Pierre Chiartano, no seu livro “A Defesa do Ocidente” fez uma síntese de uma conversa que tivemos, na qual eu defendia que era necessário reintroduzir o conceito de virtude, porque uma sociedade democrática apenas funciona se tiver uma sólida base moral. Fomos buscar à cultura anglo-saxónica a ideia de que os vícios privados (como a avidez, a ambição, e até mesmo a inveja) podem tornar-se públicas virtudes porque estimulam a competição económica e política. Mas isso apenas acontece em sociedades que possuem uma rigorosa ética privada e pública como as comunidades de New England.




Em Itália, onde a ética pública é quase inexistente, os vícios privados tornam-se imediatamente vícios públicos, corrupção. Os males da nossa sociedade não se podem curar nem com simples alterações na maioria eleita nem com leis. A lei, por si só, nada é sem sólidas raízes éticas. Nos anos 90, os magistrados tentaram substituir a moral pela lei, mas o resultado foi desastroso. Não, a base da sociedade é o indivíduo moralmente capaz de dizer não a quem lhe oferece dinheiro, sucesso e carreira em troca de favores.
O nosso país precisa de uma reconstrução ética que apenas pode ser realizada se partirmos da infância e, no caso dos adultos, partindo das pequenas coisas. Não estacionar a mota no passeio, pagar o bilhete de autocarro, não prometer aquilo que não se pode cumprir, não favorecer os recomendados, não pagar sem recibos, pedir factura, declarar os rendimentos e denunciar as irregularidades que nos rodeiam. São comportamentos que deveriam ser essenciais, a começar pelos políticos, magistrados, intelectuais, jornalistas, empresários, comerciantes e depois todos os outros, porque a moral ensina-se através do exemplo. Mas atenção, não estou aqui a fazer nenhum convite à austeridade, ao ascetismo. Nada disso! Divirtam-se, festejem, façam férias, façam amor, comam e bebam o que vos apetecer. Mas, quando estiverem a trabalhar, não finjam que trabalham. Se forem professores, ensinem com dedicação, se forem juízes, sejam imparciais, se foram administradores, não enganem ninguém. É evidente que os corruptos vão considerá-los estúpidos, mas temos de começar a comportar-nos de forma correcta, apenas por ser o que está certo. "

Reino Unido - que perspectivas económicas?

Wolfgang Munchau tem no Financial Times uma apreciação sobre a economia britânica, Britain can no longer depend on being cool, não primando pelo optimismo - bolha especulativa no imobiliário, fragilidade do sector financeiro, e erosão da capacidade do país no domínio da engenharia e da ciência. A reter, como referência futura - a prosperidade económica de um país pode assentar, em grande parte, nos serviços? O comportamento futuro da economia britânica poderá contribuir com factos para a elaboração da resposta. Excertos que dão conta da linha de argumentação do artigo :


Inicio:

"Axel Leijonhufvud, the Swedish-born economist, once made an insightful observation about inflation targeting. It worked better in practice than it did in theory, he said. I feel the same about the UK economy. Given what we have long known – about the country’s relatively low productivity growth rate and the erosion of its scientific and engineering excellence – the British economy should clearly not have performed quite as well as it did for the past 15 years. Economic theory would suggest that this was not possible.


In the next few years, I expect the UK economic miracle to be exposed for what it was: an overlong joyride on the back of an overlong asset price bubble. The UK economy is about to undergo a downturn at least as large as that of the US – maybe even worse, because of an even more inflated housing market and because the financial sector constitutes a larger share of gross domestic product."


Um parágrafo intermédio:


"Perhaps the worst thing will be that working in finance will no longer be regarded as cool, as it has been over the past 15 years. Finance will be once again what economic theory always told us what finance should be: a necessary activity, requiring some technical skills, but rather dull in the absence of bubbles."


Conclui:



"The adjustment ahead will put the previous 10-year performance of the UK economy into some perspective. My own guess is that Britain’s heavy reliance on financial services and housing, until recently seen as a great strength, will in future be seen as a structural weakness, similar to the French labour market or the Italian public sector.


Funny that, given what we have been told about economies in the 21st century succeeding through services and the like. But then, economic fashions are subject to violent swings. As for the gap between practice and theory, theory may on occasion provide more lasting insights."

24 de fevereiro de 2008

Mobilidade social

A nota do blogue Consider the Evidence Promoting Mobility diz respeito à discussão das medidas de política que poderiam voltar a fortalecer a mobilidade social nos EUA - algumas dessas medidas são direccionadas à realidade norte-americana mas qualquer delas carreia matéria de reflexão para outras realidades.


Vou indicar as medidas, sem a discussão, comentários e ligações, que as acompanham:



What would be more effective at fostering mobility?

  1. Universal preschool for 4-year-olds and subsidized high-quality care for under-4s.
  2. Improve K-12 public schooling by increasing teacher pay.
  3. Encourage lifelong learning.
  4. Make college more affordable.
  5. Universal health care.
  6. Expand the Earned Income Tax Credit.
  7. Wage insurance.
  8. Boost income maintenance.
  9. Job placement assistance and public employment as a last resort.

Expresso (23 de Fevereiro)

Não compro o Expresso de modo regular. Hoje, tive sorte com o conteúdo. Vejam estas notas de leitura:



  • Fernando Madrinha, sobre a entrevista de Sócrates, diz, a dado passo, a-propósito da pretensa deriva tecnocrática de Sócrates: “Mais ou menos o mesmo que certa “inteligência” dizia de Cavaco nos anos 90. Pois a desgraça da direita e a frustração da velha esquerda em relação a Sócrates resultam precisamente desse equívoco antigo e irresolúvel: esperavam uma espécie de Guterres e saiu-lhes, com as suas diferenças e sem ofensa para qualquer deles, uma espécie de Cavaco. Por isso lhes custa, como lhes custava com Cavaco, compreender porque é que, apesar de tantos defeitos, de tanta contestação e de tantas dificuldades, o primeiro-ministro manter ainda os índices de popularidade que mantém”. De acordo. Nunca votei em Cavaco; critiquei-o (calculem) por não fazer as reformas que o país precisava; ao Guterres dei-lhe o meu apoio, durante a primeira parte do seu primeiro mandato, porque não tinha maioria absoluta; nunca duvidei que Sócrates não seria uma “espécie” de Guterres.

  • Miguel Monjardino tem um artigo interessante sobre União Europeia. Afirma que além da ratificação do Tratado de Lisboa, a outra grande prioridade (assumida) da União é a de alcandorar-se a um papel de liderança internacional na gestão dos problemas de energia e alterações climáticas; que a União mantém claras ambições geopolíticas, apesar dos seus desaires de protagonismo na década de 90; que a Administração Bush serviu à União no sentido de enfatizar a necessidade dela assumir esse protagonismo; que a decisão tomada sobre o Kosovo vai nesse sentido (bater o pé à Rússia e ganhar espaço de manobra face à futura administração norte-americana); que essa trajectória de afirmação internacional, é conduzida de forma furtiva e é ignorada pela opinião pública europeia. Isto cruza com aquilo que Parag Khanna disse no New York Times sobre a futura dimensão da importância geo – estratégica da União Europeia (ver aqui). Quanto ao carácter furtivo desse trabalho de afirmação, não deixa também, no fundo, de reflectir uma característica transversal de todo o processo de construção europeia: a incapacidade e desleixo políticos em conquistar as populações para a necessidade dessa construção e do âmbito que ela deve ter.

  • No caderno de Economia, há uma entrevista a Luís Fábrica, responsável pela comissão de reforma da Administração Pública, que me deixa preocupado e é de manter como referência para a apreciação futura da eficácia dessa reforma. Em particular, o que diz sobre a qualidade do texto da lei, é grave: mal feito, indiciando insuficiente técnica legislativa – a qualidade da produção legislativa é assunto muito sério que deveria estar na primeira linha de preocupações de toda a gente, mas não está (veja-se o modo como toda a discussão – inqualificável - da actuação da ASAE é enviesada porque ignora totalmente a questão determinante da qualidade da produção legislativa).

  • A-propósito da qualidade da produção legislativa fala, também, Saldanha Sanches, em A paralisia do poder. O que diz é que em Portugal, “o fim constitucional é que o poder paralise o poder”; “… ou fazer seja lá o que for, emperra em uma fila interminável de estruturas paralisadas e paralisantes que remetem a decisão de umas para as outras”; dá exemplos; fala das providências cautelares e da “inacreditável emaranhada teia de leis sobre o urbanismo”; tem palavras duras para os advogados, que são também deputados, na sua produção legislativa, e conclui com: “A proibição absoluta de mudar seja o que for é primeiro princípio do ordenamento jurídico português”.

  • Para concluir, uma referência, a um pequeno artigo, de Miguel Gouveia, da FCEE/UC, sobre a relação “entre o volume de actividade de uma unidade de saúde e a qualidade dos resultados”. Diz que a investigação é clara – pesquisar no Google “health care volume outcome effect”: unidades com pequenos volumes de cuidados (em qualquer área) “têm os piores resultados em termos de taxas de mortalidade ajustadas pelo risco, durações de internamento ou probabilidades de complicações e reinternamento”. Pergunta ao fim: quem será responsável, se o processo de racionalização e concentração dos cuidados de saúde for atrasado ou acabar, pelas mortes desnecessárias que ocorrerem no entretanto. Boa pergunta.

Avalanche no Wisconsin


Steve Brodner, New York, via The Monkey Cage.

Astronomic Picture of the Day - 24 de Fevereiro: Colisão de Galáxias


Ver aqui.

23 de fevereiro de 2008

Porque é que Deus não conseguiu doutorar-se?

  1. He had only one major publication;
  2. It was in Hebrew;
  3. It had no references;
  4. It wasn't published in a refereed journal;
  5. Some even doubt he wrote it by himself;
  6. It may be true that he created the world, but what has he done since then?
  7. The scientific community has had a hard time replicating his results;
  8. He never applied to the ethics board for permission to use human subjects;
  9. When one experiment went awry he tried to cover it by drowning his subjects;
  10. When subjects didn't behave as predicted, he deleted them from the sample;
  11. He rarely came to class, just told students to read the book;
  12. Some say he had his son teach the class;
  13. He expelled his first two students for learning;
  14. Although there were only 10 requirements, most of his students failed his tests;
  15. His office hours were infrequent and often held on limited access mountain tops;
  16. No record of working well with colleagues.

Via Open Left, em Learning Technologies: Why God never got a PhD.

China e Índia: uma outra perspectiva

Pranab Bardhan, no Boston Review, discute o comportamento da China e Índia, - pelo que respeita ao crescimento económico, à diminuição da pobreza, ao contexto e tensões políticas (e.g., democracia versus Autoritarismo), à globalização -, em What Makes a Miracle - Some myths about the rise of China and India. A visão que transmite é diferente (qualifica-a em grande parte) da narrativa político-económica que certos meios políticos, académicos, - conservadores e ultra-liberais em termos económicos - fazem, do que tem vindo a suceder nesses países, nas últimas décadas, e da importância do que se passou antes. Imprescindível a leitura. Ver o blogue Dani Rodrik's weblog (que sugere esta ligação) para mais sobre este assunto.


Excerto: Sobre os méritos e deméritos relativos da democracia (parte da matéria).

"The relationship between democracy and development is much more complex than the conventional wisdom suggests. Even if we were not to value democracy for its own sake (or regard it as an integral part of development by definition), and looked at it in a purely instrumental way, democracy has at least four advantages from the point of view of development. Democracies are better able to avoid catastrophic mistakes, (such as China’s Great Leap Forward and the ensuing great famine that killed nearly thirty million people, or its Cultural Revolution, which may have resulted in the largest destruction of human capital in history) and have greater healing powers after difficult times. Democracies also experience more intense pressure to share the benefits of development, thus making it sustainable, and provide more scope for popular movements against industrial fallout such as environmental degradation. In addition, they are better able to mitigate social inequalities (especially acute in India) that act as barriers to social and economic mobility and to the full development of individual potential. Finally, democratic open societies provide a better environment for nurturing the development of information and related technologies, a matter of some importance in the current knowledge-driven global economy. Intensive cyber-censorship in China may seriously limit future innovations in this area.

All that said, India’s experience suggests that democracy can also hinder development in a number of ways. Competitive populism—short-run pandering and handouts to win elections—may hurt long-run investment, particularly in infrastructure, which is the key bottleneck for Indian development. Such political arrangements make it difficult, for example, to charge user fees for roads, electricity, and irrigation, discouraging investment in these areas, unlike in China where infrastructure companies charge full commercial rates. Competitive populism also makes it harder to cut losses resulting from experimentation in industrial policy in India, where retreating from a failed project—with inevitable job losses and bail-out pressures—has electoral consequences that discourage leaders from carrying out policy experimentation in the first place. Finally, democracy’s slow decision-making processes can be costly in a world of fast-changing markets and technology."

Excerto: Conclusão do artigo.


"Chinese and Indian economic performance has been far better in the last quarter-century than in the previous two hundred years—and this is one of the striking events in the recent history of the international economy. Other countries must adjust to this reality, and learn to treat the partial restoration of the earlier global importance of these two countries as an opportunity for trade, investment, and exchange of ideas, not as a threat. (We also need to work in tandem with them on the environment.) But we must remember that the story of their rise is more complicated and nuanced than standard accounts make out. That more complex story includes the positive legacy of China and India’s earlier statist periods, which offers general lessons for the process of development much too often ignored."

Obama, oh Obama!

Porque é sábado, como diz o Climate Progress, vejam aqui.

Retórica e política (I)

Ricardo Costa, no Diário Económico, sobre a capacidade de retórica de Obama e a importância da retórica como instrumento da política: O som e a fúria. Tenho de admitir o que diz, embora, com qualificações - e, uma muito óbvia: nem toda a boa capacidade retórica foi respaldada com todo aquele conjunto de qualidades que torna um político, num grande político.


Jack Shafer disseca, na Slate, How Obama Does That Thing He Does. Porque Obama consegue, mesmo, fazê-lo: "No less an intellect than The New Yorker's George Packer confesses that moments after a 25-minute campaign speech by Obama in New Hampshire concluded, he couldn't remember exactly what the candidate said. Yet "the speech dissolved into pure feeling, which stayed with me for days," he writes."

Adiante: "Given that many of his speeches are criminally short on specifics, as Leon Wieseltier writes this week, how does Obama do that thing he does? A 2005 paper (abstract) by University of Oregon professor of rhetoric David A. Frank unpeels Obama's momentous 2004 Democratic National Convention keynote address (video and text here) for clues to his method" e mais: "Obama relies, Frank writes, on a "rhetorical strategy of consilience, where understanding results through translation, mediation, and an embrace of different languages, values, and traditions" e :"In a response to Frank's paper (published in tandem with it), Mark Lawrence McPhail of Miami University warns of the downside of the Obama vision, which he regards as, in the 1994 words of Stephen L. Carter, one that "almost nobody really believes in but almost everybody desperately wants to." Têm de ler o artigo.


Na mesma linha, Sasha Abramsky, no Coment is free (Guardian), escreve In defense of oratory e conclui a sua coluna com: "Great speechifying has always been, and will always be, important in democratic politics, not just in America but globally. Of course there has to be substance behind the words, but to attack Obama simply because he's a fine speaker, well that's below the belt."

PS: Acabei de ver e ouvir o discurso de Obama na convenção democrata de 2004 (ligação indicada acima). Indiscutível: "powerful stuff".

Portugal, o governo e a crise

Editorial de Bruno Proença, no Diário Económico, sobre o modo como o Governo está a lidar, em termos de comunicação, com as perpectivas económicas para o país, decorrentes da conjuntura económica internacional: A crise está à porta. Vem no seguimento de críticas, de muitos quadrantes, sobre o pretenso optimismo infundado e mistificador do Governo, neste particular.


O articulista reconhece: "É normal que o optimismo venha de Fernando Teixeira dos Santos – quer evitar uma queda abrupta na confiança de consumidores e empresários. E até tem boas notícias para dar: a economia portuguesa está melhor do que no passado. O défice orçamental desceu, o défice externo está em correcção, o crescimento está próximo de 2% e a economia está a criar emprego." mas precisa: "Mas o optimismo tem limites. A mais deixa de ser credível."



E continua: "O Governo devia ser transparente na sua mensagem. Devia dizer: um, há crise; dois, vai atingir Portugal; três, temos a solução. Qual? O investimento. É a última alternativa. Se o investimento privado e público acelerar para níveis do passado, a economia pode passar pela crise sem danos de maior. É verdade que o crédito está mais caro mas as empresas têm uma situação financeira melhor do que no passado. Só precisam de sentir confiança. E isso vem de um Governo realista."

Não percebo. Um Governo que anuncia a crise, irá induzir o investimento, via credibilidade que ganha? Em que mundo de Deus, isso sucede? Se fosse empresário; se o governo do meu país me anunciasse, com certeza, a crise - se não tivesse a certeza (e, mesmo tendo-a, em muitos casos) seria, totalmente inadmissível, fazê-lo - , eu suspenderia os meus projectos de investimento, agradeceria o aviso, e, quanto muito, votaria no partido do governo, nas próximas eleições em reconhecimento do seu aviso - não que o meu voto valesse alguma coisa (qualquer que fosse cenário internacional, o cenário nacional tenderia a ser pior - o anúncio da crise ajudaria - e, em consequência, o governo perderia as eleições) . E em todo o caso: o Governo tem a certeza que vai haver crise? Os sinais são maus, mas, mesmo assim, existe grande incerteza sobre o que vai suceder, como vai suceder e em quanto vai suceder - a gestão das expectativas é um assunto muito perigoso e as profecias em economia, quando credíveis (e.g., vindas dos governos), tendem a auto-cumprirem-se.

Não vi o Governo enfatizar que não irá haver crise; o que tem dito, é que o país está melhor, mais resiliente - subentende-se (quando isso não é dito da forma mais clara) que estamos melhor preparados, aconteça o que acontecer. E é verdade. A dúvida que fica é se aquilo que se ganhou, nestes últimos três anos, é suficiente para superar aquilo que suceder, se o cenário pior se confirmar - ora, essa dúvida nunca poderá ser assumida, publicamente, pelo Governo.

Hillary: o adeus?

Bob Herbet faz o balanço da campanha de Hillary Clinton em Hillary on the High Road? - New York Times, e o modo como correu o último debate. Hillary Clinton prepara o adeus para depois de 4 de Março? Parece que sim! Um excerto:



"Senator Clinton’s options are not officially closed. But to have any chance at all, she would need a sudden startling string of prodigious victories against a candidate who is better-financed and riding a tremendous wave of momentum.


At the debate on Thursday night, Senator Clinton, who is 60, passed on a number of opportunities to harshly criticize Senator Obama. She refused to say that he was not ready to serve as the nation’s commander in chief. And she suggested that she does not intend to pursue a ruinous fight for superdelegates at the Democratic convention.


She seemed like someone unwilling to sacrifice her dignity or the interests of her party in an attempt to stave off a likely defeat."

22 de fevereiro de 2008

Modos de fazer política: uma tipologia possível

Vejam este artigo da The Nation: Transforming the Liberal Checklist. Tudo roda à volta do que a articulista considera ser os dois modos de fazer política (os dois são necessários e implicam-se): transactional politics e transformational politics (tradução possível: políticas de transacção e políticas de transformação). O artigo tem como objectivo a situação norte-americana (as actuações dos partidos democrata e republicano) - que ilustra bem, na sua evolução, nas últimas décadas, as diferenças entre essas duas maneiras de fazer política - mas aquilo que se diz a-propósito destes conceitos, tem aplicação em todo o lado.
Reflictam nos exemplos dados e reapreciem a política feita no país e na região, à luz do que aqui se diz - a minha opinião é de que em Portugal, a política desistiu, de todo, de ser de transformação (o conteúdo de algumas notas deste blogue vão nesse sentido). A questão é a de saber porquê.




Excertos (os bolds são meus) - a frase de Lincoln é exemplar:


"Transactional politics is pretty straightforward. What's the best deal I can get on a gun-control or immigration-reform bill during this year's legislative session? What do I have to do to elect a good progressive ally in November? Transactional politics requires us to be pragmatic about current realities and the state of public opinion. It's all about getting the best result possible given the circumstances here and now."

"Transformational politics is the work we do today to ensure that the deal we can get on gun control or immigration reform in a year--or five years, or twenty years--will be better than the deal we can get today. Transformational politics requires us to challenge the way people think about issues, opening their minds to better possibilities. It requires us to root out the assumptions about politics or economics or human nature that prevent us from embracing policies that will make our lives better. Transformational politics has been a critical element of American political life since Lincoln was advocating his "oft expressed belief that a leader should endeavor to transform, yet heed, public opinion."

"The need for a renewed focus on transformational politics is obvious when we compare the success of the conservative movement over the past thirty years with the collapse of the American progressive coalition. The important thing about contemporary conservatives is not just that they won elections--it's how they won. They didn't win by changing their positions or rhetoric to move toward the voters--or where polls told them the voters were. They won by moving the voters closer to them, paving the way for the last decade of conservative hegemony."

Os trabalhos do novo presidente dos EUA

Krugman continua a dar recados: Don’t Rerun That ’70s Show - New York Times.

Alguns excertos do artigo:


"The difference is that the problems look a lot worse this time: a much bigger bubble, more financial distress, deeper consumer indebtedness — and sky-high oil prices added to the mix. So if history is any guide, we should be looking at an extended period of economic weakness, probably extending well into 2010, and quite possibly even longer. Can the next president do anything to avoid that outcome? In terms of straight economics, the answer is a clear yes."


"Politically, however, it’s hard to see this happening. If the next president is a Republican, he will be captive to the doctrine that tax cuts are the answer to all problems, and therefore won’t seek an effective response to the economy’s troubles. And even if the next president is a Democrat, any serious stimulus plan would face intense, ideologically motivated opposition in Congress. Will the next president be prepared to fight for an effective plan? Or will we end up with a compromise like the one Congressional Democrats agreed to this year, legislation that assuages conservative objections at the cost of undermining the plan’s effectiveness?

Until recently, I thought the biggest political struggle facing the next president was likely to be over health care reform. But right now it looks as if the first thing on the next administration’s plate will have to be dealing with a weak economy. And if effective action isn’t forthcoming, the next president will suffer the fate of Jimmy Carter, who began his administration with words of uplift — “Let us create together a new national spirit of unity and trust” — and ended up delivering America into the hands of the hard right."

Kosovo

Sobre o Kosovo não tenho uma opinião formada; tenho é preocupações. Timothy Garton Ash (Comment is free - Guardian) discute a situação em This dependent independence is the least worst solution for Kosovo ". Como sempre, muito bom, o artigo.


Conclui: 'Kosovo is a special case,' says Kosovo's declaration of independence, going on to insist (hear the adviser's whisper again) that it is not a precedent. But all the 68 other Unpo members are special cases too. Liberals have universal rules for the treatment of individuals; they have always got in a tangle about groups - both about the position of groups inside a country (witness the debate around multiculturalism) and about which group is entitled to exercise the right of self-determination. They have no consistent answer to the nationalist's question: 'Why should I be a minority in your country when you could be a minority in mine?' Kosovo's declaration of dependent independence is the least worst way forward, but don't let us pretend it's not a precedent. Both statements are true: Kosovo is unique, and there will be more Kosovos."

Uma má notícia

A China irá em breve iniciar a produção de combustíveis líquidos a partir do carvão - como os Alemães o fizeram durante a II Grande Guerra (e os Sul-Africanos na altura do embargo). Segundo o Gristmill é uma má notícia para os esforços de contenção da emissão de CO2: Quick, change more lightbulbs! Gristmill: The environmental news blog Grist.

Gases de estufa e a saúde do mar

"Every silver lining has its cloud. At the moment, the world's oceans absorb a million tonnes of carbon dioxide an hour. Admittedly that is only a third of the rate at which humanity dumps the stuff into the atmosphere by burning fossil fuels, but it certainly helps to slow down global warming. However, what is a blessing for the atmosphere turns out to be a curse for the oceans. When carbon dioxide dissolves in water it forms carbonic acid. At the moment, seawater is naturally alkaline—but it is becoming less so all the time.


The biological significance of this acidification was a topic of debate at the American Association for the Advancement of Science meeting in Boston. Many species of invertebrate have shells or skeletons made of calcium carbonate. It is these, fossilised, that form rocks such as chalk and limestone. And, as anyone who has studied chemistry at school knows, if you drop chalk into acid it fizzes away to nothing. Many marine biologists therefore worry that some species will soon be unable to make their protective homes. According to Andrew Knoll, of Harvard University, many of the species most at risk are corals."



Ver o desenvolvimento em: Climate change Sour times Economist.com (o bold é meu).

Dione (Saturno)


Centauri Dreams: Dione (Saturno)

21 de fevereiro de 2008

"Bread-line time?"

Nota do Gristmill sobre a situação no mercado mudial dos cereais: Bread-line time? Gristmill: The environmental news blog Grist. Neste blogue já houve referências ao problema (ver sob a etiqueta agricultura). Sem mais comentários - a nota merece ser lida pela informação e pela discussão das alternativas - alguns excertos da nota:


"Since the rise of industrial agriculture after World War II, no industrialized nation has experienced a proper famine. That's why it was so jarring when William Doyle (CEO of the Potash Corp. of Saskatchewan, the world's largest fertilizer company) raised the possibility in an interview with Bloomberg published yesterday. Reacting to global grain stocks at their lowest levels since the USDA began keeping score in 1960, Doyle declared: "If you had any major upset where you didn't have a crop in a major growing agricultural region this year, I believe you'd see famine."
"This, even as industrial ag worldwide hits on all cylinders, cranking out more food than ever: "We keep going to the cupboard without replacing and so there is enormous pressure on agriculture to have a record crop every year. We need to have a record crop in 2008 just to stay even with this very low inventory situation."
PS(08.02.22): Neste artigo do The Economist sobre o comportamento recente dos mercados de matérias primas (procura forte apesar da situação económica), poderão ver um gráfico que associa a evolução descendente dos stocks de trigo, ao longo destes últimos anos, e o preço deste.

Obama fará com os EUA saiam do Iraque em 2009

Hillary Clinton não perdeu ainda as primárias (esperemos, para ver o que sucede em 4 de Março) mas nos EUA a ênfase é colocada, já, por todos, no confronto Obama versus McCain. Eu, da minha parte, vou-me preparando para "descobrir" todas as virtudes de Obama, pelo menos, no quadro desse confronto. Mas continuo a ter sérias dúvidas. O que se segue, não as dissipa.



Vejam estes dois artigos da The Nation (esquerda): 'End the War in 2009' e Is Iran Winning the Iraq War?. O primeiro dá conta do facto de Obama se ter comprometido, publicamente, em fazer sair os EUA do Iraque, em 2009; o segundo refere a influência do Irão no Iraque - (que, não é, aliás, novidade para quem tenha acompanhado os artigos de Paulo Casaca na imprensa regional sobre a situação no Iraque).



A conjugação das duas coisas o que é que dá? Mesmo que Obama estivesse convicto, que poderia fazer isso, em 2009, sem perigo para o seu país (e já agora, para todos nós) - que a influência do Irão, no Iraque, é irrelevante, ou, será tornada irrelevante, no curto prazo - não o deveria tê-lo feito, por motivos de ordem táctica, para não reduzir a sua margem de manobra - em termos militares e políticos, os momentos da retirada são muito melindrosos. Ou trata-se de mero expediente, de promessa a não cumprir, para capitalizar, neste momento, nas primárias, o descontentamento da população norte-americana em relação à guerra - se for o caso, é mesmo de político (tradicional); se não for, é caso de quê? Do modo e da habilidade, que em qualquer caso, a saída (inevitável) do Iraque irá ser gerida por uma Administração Obama?



Como são avaliados os custos pessoais de viver longe do emprego?

As pessoas que vivem longe dos empregos não avaliam, subjectivamente, de modo correcto os custos pessoais efectivos em que incorrem por esse facto: "People usually overestimate [a investigação demonstraria isso] the value of the things they'll obtain by commuting -- more money, more material goods, more prestige -- and underestimate the benefit of what they are losing: social connections, hobbies, and health." Isto tem implicações mais latas (ver o meu bold na citação abaixo).





Ezra Klein, do American Prospect, comenta-o, aqui, do seguinte modo: "Longtime readers know my obsession with the way we overvalue positional goods like money, prestige, and real estate and undervalue non-positional goods like social connections, walking to work, and health. But the evidence really is clear that you need to make a whole dump truck of money to outweigh the happiness offered by being only a 15 minute stroll from the office, and that that extra room for your old guitars isn't going to make you nearly as ecstatic as you think it will."
Questão para referência futura.

Quando é que mais informação é contraproducente?

Qual é a melhor solução organizativa para sustentar um processo colectivo de investigação e detecção de soluções para problemas de todo o tipo? Esta notícia The downside of a good idea dá conta dos resultados da investigação para responder a essa pergunta. Excerto:

"In the "fully connected" group, everyone's work was completely accessible to everyone else -- much like a tight-knit family or small town. In the "locally connected" group, participants primarily were aware of what their neighbors, or the people on either side, were doing. In the "small world" group, participants also were primarily aware of what their neighbors were doing, but they also had a few distant connections that let them send or retrieve good ideas from outside of their neighborhood.

Goldstone found that the fully connected groups performed the best when solving simple problems. Small world groups, however, performed better on more difficult problems. For these problems, the truism "The more information, the better" is not valid.

"The small world network preserves diversity," Goldstone said. "One clique could be coming up with one answer, another clique could be coming up with another. As a result, the group as a whole is searching the problem space more effectively. For hard problems, connecting people by small world networks offers a good compromise between having members explore a variety of innovations, while still quickly disseminating promising innovations throughout the group.

20 de fevereiro de 2008

Blogging


XKCD cartoon - via The Monkey Cage.

Frases

When you steal from one author, it’s plagiarism. If you steal from many, it’s research.” Wilson Mizner.

Preço do petróleo

Em termos reais o preço de petróleo alcançou (ou está a alcançar) o valor mais alto de sempre (ocorrido aquando da revolução iraniana) - cálculo e gráfico de Krugaman, em Feeling a bit peaked - Paul Krugman - Op-Ed Columnist - New York Times Blog. Acrescenta a título de comentário: "Peak oil, that is — a dismal theory that keeps getting more plausible."
PS: Sobre o mesmo assunto, e sobre as suas implicações, ver: At $100 a Barrel, Times Will Never Be the Same SolveClimate.com.

Inovação social

João Wengorovius em O outro lado da inovação - DiarioEconomico.com defende a necessidade de inovação social e cita Charles Leadbeater, autor do livro “The Ten Habits of Mass Innovation”, ao referir que "um dos maiores desafios actuais é passarmos de sociedades assentes numa cultura de consumo para sociedades assentes numa cultura de participação e inovação. O futuro passa por novas formas de inteligência colectiva e de criatividade de massas – algo que as novas tecnologias colaborativas tornam possível." De acordo com a necessidade da inovação social e das novas formas de inteligência colectiva e de criatividade de massas - embora, tudo isso deva passar por muitas qualificações. De qualquer forma, tudo isso não passa de "música das esferas" para muita gente. Alguns excertos:

"Portugal encontra-se na transição de uma economia industrial pouco especializada, assente em mão-de-obra barata, para uma economia de valor acrescentado, assente na inovação e no conhecimento. Algumas das consequências dessa transição são o actual aumento do desemprego e as novas formas de exclusão social. Consequências agravadas pela crise do Estado-providência, devida à evolução demográfica, ao aumento da esperança de vida e à extensão e generalização dos direitos sociais. Hoje, uma das mais importantes questões sobre a transição em curso é saber como lidar com as consequências sociais daí decorrentes.

Como dar resposta às novas necessidades sociais e às que, não sendo novas, persistem? Como lidar com o aumento do desemprego, o envelhecimento da população, o abandono escolar, ou a falta de participação cívica e democrática? Um novo equilíbrio social depende de novas e melhores respostas para os problemas sociais, ou seja, de inovação social.

A única forma de Portugal e a Europa entrarem, sem sismos sociais, numa “pós-social-democracia”, é através da inovação social. Inovação social no sector público, no sector privado e no terceiro sector. Inovação social como predisposição para a mudança em cada cidadão, como acto de cidadania."


"Já Mintzberg, na década de 1990, havia afirmado que a pujança das sociedades ocidentais não prova o sucesso do capitalismo, mas sim de “sociedades equilibradas, com fortes sectores privados, fortes sectores públicos e sectores sociais de grande vigor.” Vencer os actuais desafios sociais dependerá da nossa capacidade colectiva para inovar, para inovar socialmente nos mais diversos domínios. Aliás, só pela inovação a Europa social poderá sair do labirinto em que se encontra."

Visitas

Este estudo é curioso. Pelo menos nos países analisados as pessoas estão a visitar-se menos: vejam em Making time for friends vox - Research-based policy analysis and commentary from leading economists. Acontecerá o mesmo cá? E se não, porquê?
Excertos (início e fim):

"Do you know who your friends are? Have you seen them lately? Data from both the United States and France show that some important forms of social interaction are on the decline (Putnam 1996; Blanpain and Pan Ké Shon 1998). While membership in social groups has remained relatively stable over time, there has been a decline in visiting friends, neighbours, and relatives. This decline in visiting is not simply due to friends switching to email communication and socializing at work. Evidence of a true decline in friendship is provided by McPherson, Smith-Lovin and Brashears (2006), who document a decline in the reported number of close friends over the past 20 years. Understanding the determinants of the decline in visiting has attracted interest in both the academic literature and in the popular press. It raises concerns on both sides of the Atlantic because social interaction is thought to have positive effects on the mental and physical health of individuals and the efficiency of economic institutions."

"Human capital, however, is found to be an important determinant of social interaction. The effect of human capital, as measured by education and age, is positive for membership activities but negative for visiting relatives and friends. This is not an intuitive result and requires some explanation. One possibility is that this effect results from the productivity-enhancing aspect of education. Membership activities, like employment, are goal-oriented. Education increases productivity both at work and in membership activities. However, education has little effect on the productivity of time spent visiting. Thus, an increase in education results in greater productivity in membership activities and greater utility for the individual. To put this more intuitively, education makes membership activities more interesting and visiting less interesting. This shifts social interaction to membership activities and away from visiting.
Other factors were also found to be important determinants of social interaction. Higher income increases memberships and decreases visiting, which seems consistent with the education effect. Marriage tends to reduce all social interactions, which suggests that a spouse is a substitute for other social interactions. Children have a positive effect of membership in school and church groups, which is probably the result of complementarity between these activities and child care. Males tend to have less of all social interactions, which is a familiar result. Finally, a comparison between France and the United States shows that the response to human capital and other variables are much the same in both nations. Since the time data show that visiting has declined while education has increased, it is possible that the true cause of the decline in visiting is rising education. Trends in social interactions, it seems, are not driven by a simple trade-off between work and play but by education and choices in consuming different types of socializing."

China e o carvão


Já se tinha falado disso, nesta nota - segundo alguns a subida do preço do petróleo não seria tão boa como isso, em termos de incentivar as energias alternativas, porque estaria a induzir, a contrário, o recurso, por parte de alguns países (e.g., China, Índia), ao carvão (a pior solução no que respeita à emissão de gases de estufa, ao nível da tecnologia actual).











Acontece, no entanto, que nem o preço do carvão aguenta a pressão do crescimento chinês e do seu efeito na procura mundial de inputs - a China já é neste momento um importador líquido de carvão. Tal facto (associado a circunstâncias desfavoráveis na produção) fez com que nos EUA, o preço da tonelada de carvão duplicasse desde Janeiro 2007 (143% na Ásia, no mesmo período), e em cinco anos, passasse de $20/ton para mais de $120/ton (600% de aumento). Ver aqui: Party's Over: Coal Prices Up 143%, Never Again To Be Cheap SolveClimate.com.